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Capitalismo nu e cru

Foto do escritor: Professor SeráficoProfessor Seráfico

Já é madrugada de 10 de outubro de 2022. Meu hábito de dormir entre a primeira e a segunda horas do dia põe-me diante de um quadro corriqueiro de que quase não me dava conta. A televisão traz até meu quarto enormes filas de viajantes, acumulados à frente dos guichês de despacho das companhias aéreas. O aeroporto é o de Congonhas, mas poderia ser qualquer outro, dos muitos espalhados pelo Brasil. Foi lá que pequeno acidente, desta vez sem vítimas feridas ou mortas, provocou a suspensão de dezenas de pousos e decolagens, desde o início da tarde do domingo. Das humilhações e dos abusos cometidos contra os usuários dos serviços aéreos, quase não há brasileiro que as ignore. Delas têm conhecimento os órgãos e autoridades do setor, mais empenhados em proteger as empresas que atender às necessidades dos viajantes. Enfim, a confirmação do capitalismo aqui praticado e em vias de ampliar-se, aprofundar-se e inventar novas formas de lucrar à custa de práticas lesivas aos interesses da população. Enquanto as autoridades federais festejam a rapidez com que são abertas novas empresas, aos viajantes há quase doze horas submetidos ao vexame não é dada a assistência devida. A instalação de todos os prejudicados em hotéis e, nestes a prestação de outros serviços (transporte urbano e alimentação, por exemplo), é registrada. Como o é a entrega atabalhoada de pequenas caixas contendo algo que aparenta ser um lanche semelhante aos que os passageiros dos avaros voos comerciais dispensam às vítimas da usura, da ganância e da avareza de nossos afortunados capitalistas. Não se duvide estar na lei a autorização para as relações entre os empreendedores das companhias de transporte aéreo e seus usuários. Sabemos quem produz - e onde - as normas reguladoras da atividade. Também onde a produção legislativa é sancionada. Tudo a deixar patente a transferência dos riscos para quem já sofre com os exorbitantes preços das tarifas aéreas e espera o momento de ver cobrado o ar condicionado e a música nem sempre agradável postos à disposição dos passageiros. Enfim, retrato sem mácula do capitalismo predatório por aqui praticado. Ratificação, também, do caráter selvagem desse tipo de sistema econômico. Nada de melhor se pode esperar do que tem nos fundamentos exacerbado individualismo, hostilidade à solidariedade, aversão à humanidade. E lucra, mesmo se para fazê-lo precisa matar. A realidade desta madrugada de uma segunda-feira só tem de diferente a hora. A prática, todavia, dura 24 horas, todo dia.

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