Enquanto o articulista Orlando Câmara (A Crítica, Manaus-AM, 23/24-07/2022) solicita a intervenção da mítica figura dos curupiras, em defesa da Amazônia, boa parte do empresariado do Pará revela seus mais espúrios interesses e maléficos propósitos. Lá, estão a favor de tudo quanto deprecia a região e tenta devasta-la, acossada a natureza, ameaçados seus habitantes. É disso que têm tratado importantes lideranças ligadas à Federação das Indústrias daquele Estado, aplaudindo medidas que ameaçam os defensores do respeito às potencialidades, antes de esgotados os recursos nela contidos. Pior que o aplauso, às vezes oportunista e manchado pela mais abjeta subserviência, é darem de ombros para o desmonte da estrutura institucional de assistência, apoio e defesa das populações do interior. Lá onde haja algum grupo indígena, ou conjunto de quilombolas e ribeirinhos, é para lá que se dirige o ódio partilhado pelas autoridades e pelos escravocratas que engrossam seu coro. Vai ficando para trás, assim, o que os historiadores consideram verdadeiro marco na trajetória da sociedade sediada na região, de que a Cabanagem é a expressão mais evidente. Muitos dos estudiosos das lutas que se travaram por cinco anos do século XIX em terras amazônicas, consideram o movimento de Batista Campos, Malcher, Angelim, Vinagre e tantos outros, talvez o maior em termos de defesa do interesse da maioria da população, de quantos tenham ocorrido naquele século no Brasil. De lá para cá, temos assistido à mobilização de forças que só têm causado mal à Amazônia e aos amazônidas. Grande parte do território paraense, por exemplo, só com custo ainda é identificada com a história, dado que pesam em seu cotidiano decisões referidas aos interesses de capitais oriundos de outras regiões, sem dispensar a menor atenção aos que os receberam com a exigível e costumeira hospitalidade. O comportamento dos ádvenas, no entanto, nada tem de agradável aos anfitriões, usados apenas como recurso do enriquecimento e da acumulação extravagante dela resultante. Por isso, não admira que lideranças empresariais instaladas na Federação das Indústrias do Estado do Pará e em outra organizações patronais se sintam atraídas por decisões e ações em nada condizentes com o propalado desejo de ver a região desenvolver-se. Ao contrário, se o (des)governo promove o desmantelamento de órgãos destinados à assistência das populações e aqueles que deveriam assegurar a paz nas mais remotas localidades do interior, os setores empresariais aqui referidos o aplaudem e estimulam, porque assim exige seu exacerbado egoísmo - a perversidade e o ódio também servindo de base aos seus propósitos. Às mais recentes vítimas pessoais dessa hostilidade, Dom Philips, Maxciel e Bruno Pereira, juntam-se o desmatamento e a poluição das águas pelos mineradores e as investidas contra a economia amazonense. Se curupiras, como reivindica Orlando Câmara, e os cabanos, como agora convoco, se juntarem, quem sabe registraremos na História mais um episódio digno da trajetória percorrida pela sociedade amazônica?!
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