top of page

Brasil redescoberto

Até o sábado passado pouco nos detínhamos em expressões que pretendem descrever algumas percepções do maior país do subcontinente americano. Aquele que habitamos e que jamais experimentou sofrimentos maiores que os impostos pelo ódio, a ignorância e a cultura da morte que se dissemina. Cordiais, como disse Sérgio Buarque, interpretamos a versão mais leve da expressão, como se no coração dos homens não se abrigassem deuses e demônios. À indicação de que somos um resumo, a reunir riqueza e miséria, ostentação e servidão, parecia jocoso aceitarmo-nos como uma Belíndia. Veio o golpe em Dilma; veio o conciliábulo entre juízes, promotores de falsa justiça, investigadores e parlamentares distantes do mínimo decoro. Vieram, depois, as eleições e rol de crimes cometidos com vigorosa ajuda da tecnologia. Logo conhecidos os resultados, graças à odiosa inteligência humana de que a urna eletrônica se faz símbolo, descobre-se muito mais do que se poderia supor. Essa descoberta não altera nenhuma das percepções acima mencionadas, não porque as conteste cabalmente. Nem é o caso de fazê-lo agora. A respeito daquelas, muito tem sido escrito e discutido. O que nos desafia, nesta hora de apreensão mais do que justa, de ameaças e hostilidades às quais já parecemos nos acostumar, é o ambiente social no qual convivemos. Pior, enrustido e natural ou propositalmente oculto dentro dos indivíduos. Nada que revogue a sentença de Stephan Zweig (Brasil, país do futuro). Algo, porém, que nos leva a imaginar o futuro como o momento em que a dignidade se terá esfumado. E será perdido o que nos resta de humanidade. Uma situação em que, fanatizados e robotizados, nos moveremos ao menor toque dos dedos - se não do olhar superior e odiento, constrangedor e autoritário de um único capataz. Enfim, descobrimos que, meio-a-meio, convivemos entre as panteras de que falou Augusto dos Anjos. Sem que alguma delas seja menos tétrica que todas as demais. Ambiente em que não há beijo, só escarro; onde metade não tem mãos para o afago, tão ocupadas elas se encontram e dedicadas à promoção da morte, não da Vida. Esta, infelizmente, a descoberta mais recente. Mais trágico, ainda, é admitir a possibilidade de ver tudo isso tornar-se ainda pior. Tudo dependendo do meio que vencerá a batalha anunciada pelos que usarão o dedo, dando-lhe folga da função mais bem avaliada por eles mesmos, de apertar gatilhos, pela de manifestar sua opção pelo Amor e a Paz. É justo esperar pelo menos a possibilidade de isso ocorrer? Digam-me que sim! Nem me lembrem de que, se for diferente, ninguém se admirará se vier o fim dos desiludidos e desistentes do futuro. Tudo igual ao que aconteceu com o próprio europeu que se encantou pelo Brasil.

75 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

França e franceses

Mais uma vez vem da França o anúncio de novos avanços na História. Esta quinta-feira marca momento importante daquela sociedade, há mais...

Uso indevido

Muito do que se conhece dos povos mais antigos é devido à tradição oral e a outras formas de registro da realidade de então. Avulta nesse...

Terei razão - ou não

Imagino-me general reformado, cuja atividade principal é ler os jornalões, quando não estou frente à televisão, clicando nervosamente o...

Comentarios


bottom of page