Ainda há corpos por encontrar, dentre as mais de 400 vítimas comprovadas do assassinato sistematicamente praticado contra opositores da ditadura militar. Não obstante, o (des) governo federal prepara-se para decretar o encerramento das atividades da comissão criada para localizar os mortos e desaparecidos. Mais uma, dentre as numerosas e permanentes atividades destinadas a apagar a História. As mentiras sistematicamente criadas e espalhadas através das redes antissociais, portanto, não são coisa nova. De novo elas têm apenas o nome, desta feita dito em inglês, como a revelar a índole e os amores dos patriotas de plantão. Os mesmos que armam a pátria e dizem que a amam. Um R a mais ou a menos raramente interessa a quem mal consegue alfabetizar-se. O que lhes interessa não é o que interessa à maioria da população, em especial àqueles que choram parentes e amigos desaparecidos, tanto pelas ações que fizeram dos porões da ditadura verdadeiras fábricas de torturados e mortos, quanto os que lamentam a morte ou a sequela deixada pela covid-19. Não se trata, agora, de verberar contra o uso de paus-de-arara, afogamento, cadeira-do-dragão, lançamento de aviões sobre o mar e o elenco de horrores que impede distinguir homens de monstros. Tão mortal quanto esses expedientes rotineiros à época da ditadura é a escassez de oxigênio e o uso de placebos desautorizados pela Ciência, não bastasse o desmonte e a má vontade com que é encarado pelo próprio poder público federal o Sistema Único de Saúde. Lembre-se que a comissão foi criada sem qualquer intenção maliciosa. A não ser que a Verdade incomode, a qualquer povo vitimado pelo autoritarismo assiste o direito de saber tanto como o dinheiro dos tributos é aplicado, quanto o destino dado aos recursos que o Executivo administra. Pelo menos, na república que reivindica essa condição e exige respeito, isso é o mínimo a cobrar. É certo que a decretação de absoluto silêncio sobre informações que dizem respeito ao exercício do poder, às vezes por período igual a um século, é em si mesma decisão destinada a acobertar atos e fatos indefensáveis e agressivos à cidadania. Uma espécie de confissão, por isso mesmo ainda mais necessária sua rejeição. Mais que isso, a atribuição das responsabilidades que cabem aos promotores do silêncio, uma dentre outras medidas de acobertamento de atos lesivos à ordem constitucional vigente. De qualquer maneira, a normalização de conduta tão malsinada em nada ajudará na defesa da democracia e dos que, ontem e hoje, desejam vê-la em vigor e fortalecida. Não é que os mortos possam ressuscitar, mas é necessário matar as serpentes, antes que elas estrangulem o que ainda resta de esperança na sociedade.
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