Ouvi, não me disseram sem imagem, nem mandaram me dizer. Lá estava o (des) governador do Estado do Amazonas, revelando seus maus propósitos, os mais absurdos e disparatados desígnios. Falava de seu ódio às reservas territoriais e aos que as defendem. Por extensão (e esta palavra não entra aqui gratuitamente), ódio aos indígenas, agricultores familiares, pescadores artesanais, quilombolas – enfim, todos aqueles que, excluídos pelo sistema econômico vigente, tentam sobreviver com dignidade. Na plateia, produzindo festival de subserviência e perversidade, pessoas ostentando na camisa a sigla da EMATER. Aqui entra a motivação deste texto. Em grande parte, devido à indignação de que fui tomado, lembrando a origem da empresa que se apresenta prestadora de serviços de extensão rural. Isso tudo, porque de 1973 a 1976 pertenci aos quadros da antecessora, a então respeitável Associação de Crédito e Assistência Rural do Amazonas, ACAR-AM. Participei, com profissionais dos mais qualificados vindos de várias partes do País, de trabalho que não faz muito tempo (2016) foi destacado pela Assembleia Legislativa do Amazonas, na passagem dos 50 anos dos serviços da filiada da Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural, ABCAR. À época, muito aprendi e compreendi, não só acompanhando o que dedicados e competentes agrônomos, zootécnicos, engenheiros florestais e de pesca, veterinários, economistas e engenheiros rurais, assistentes sociais e administradores executavam no interior da floresta, atentos aos valores em que se baseava a missão da ACAR-AM. Talvez dali pudesse vir alguma suspeita, mínima que fosse, da possibilidade de o sistema econômico que nos agride e empobrece ser passível de tornar-se menos injusto. Passado tanto tempo, não posso esquecer o momento em que desisti, apesar do prazer e dos vínculos fraternos que o ambiente da organização proporcionava. Aos que nela trabalhavam e aos que, por alguma razão, dela se aproximavam. Lembro-me bem do momento em que o amigo Esteves Pedro Colnago atraiu-me para a ACAR-AM. Muito mais, do ambiente em que fiz grandes e fraternas amizades, a começar pela do então Secretário-Executivo da Associação. Com ele dividi ideias, debatendo-as sempre, porque era assim que conseguíamos chegar a consensos que, em geral, se mostravam coerentes com o discurso da instituição. Marcílio Junqueira, Orlando Campelo Ribeiro, Ricardo Marques, Paulo Iemini Rezende, Nílson Lomeu Bastos, Paulo Rolim, José Cesário de Barros, Romeu Nogueira Campos Júnior, Carlos Onofre Bessa, Hermínio Bernasconi Jr., Rafael Pinzón Rueda, Antônio José Vale da Costa, Arabi Amed Silva, Jerônimo Maquiné de Almeida, Shirley Teixeira, Humberto Lobato Rodrigues, Malvino Salvador, Denise Benchimol de Rezende, estavam lá com muitos outros, e de lá conseguiam levar ao interior do Estado do Amazonas as técnicas que tinham aprendido nas melhores escolas, das quais me lembro de Viçosa-MG, IAN-PA, UFRRJ, dentre outras poucas instituições de ensino especializado nas atividades do setor primário da economia. Ficou marcada na minha memória, mais que tudo, a dedicação e a isenção com que atuavam todos os servidores da ACAR. Fosse qual fosse o partido no poder municipal, não havia um só dos nossos que se envolvesse com os interesses das lideranças pessoais das cidades interioranas. Ao que registro, nenhum de nossos colegas ingressou em partido político ou se associou aos políticos locais. Interessava a eles levar técnicas e tecnologia, além de informação, às sofridas populações interioranas. Nada mais. Chegada a hora em que vi prosperar a tendência de transferência da instituição para o setor privado, pedi para sair. Hoje, apenas lamento o destino que os sucessivos governos deram àquela promessa de alterar algo no podre sistema econômico que se nutre da ganância, da ambição desmedida e do amor pelo dinheiro. Por isso, quase não me apercebi que esses mesmos interesses e essa mesma visão de mundo acabaram com a CODEAMA, de cujo quadro técnico também fiz parte. À História, como sempre, caberá o julgamento dos que, hoje, repetem (não digo o equívoco, porque me falta ingenuidade, a esta altura oitentona da vida) a má conduta dos que governaram antes deles.
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O pouco que os bons gestores públicos constroem arduamente, durante um longo período de tempo, enfrentando os mais poderosos e escusos resistentes à evolução social, esse pouco é rapidamente desconstruído em breves momentos de escuridão.