Oh, manhã que não
amanhece
sol preguiçoso escondido
que não se deixa ver
trombetas outrora
altissonantes
produtoras de sons
apavorantes
pavimento das horas
derradeiras
seguindo retos tortuosos
às vezes caminhos em elipse
ocupam o sol e a lua
no eclipse
do fatal apocalipse
mensageiras
Não basta o vírus
insidioso
oxigênio pode faltar
no próximo instante
enquanto verme
odioso sorrateiro
trata de levar
a esperança
para bem distante
atirando qual cano
certeiro
o que abala mata
e produz desesperança...
Vês, diria Augusto
aquele do anjo multiplicado
terias que passar
pelo momento
de assistir ao formidável
excremento
das bocas e cabeças
coroadas
liberar-se em funesto
enterramento
em cada gesto
em ódio e palavras
desatado
Não suja teu escarro
nos corpos onde a vida
não se encontra
mortos são os desavergonhados
multiplicadores de covas
sem fundo
eles mesmos sobre a terra
encovados
permanecerão simulando
seu viver imundo
sabe-se logo não ser
o mesmo nosso barro
Guarda a mão com que irias
atirar a pedra
necessária
limpa os dentes e não os deixarás
morder
a mão suja do que te faz
pária
nem a boca
nela o simulacro do
beijo
gesto que esconde
o rosto da alimária
Manaus, 17 de abril de 2021