Levaram o bicho para casa
doíam neles a esqualidez do bicho
as sarnas daquele ser vivo
desesperado
tão relegado à solidão
que nem os outros de sua
espécie
ousavam aproximar-se
Reservaram o lugar mais quente
deram-lhe conforto e atenção
como jamais tivera
o alimento lhe foi servido
como jamais o fora
irados e roucos
dessa vez seus uivos foram
ouvidos
Generosos
carregaram o bicho em seus braços
cumularam-no de carinho
como se acarinham os inocentes
assim o bicho cresceu
tornou-se forte
aumentaram-lhe as mandíbulas
os dentes se fizeram afiados
cortantes uns, molentes outros
agora poderia morder
as mãos que o afagaram
as bocas que o beijaram
o bicho saiu por aí
sem poupar mordidas
derramou o sangue
dos que lhe deram
de comer...
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*Poema publicado originalmente em Veleidades Poéticas. São Paulo. Editora Scortecci, 2021, p.120.
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