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Jogo macabro


Sentou-se à mesa

sem que sequer

alguém o tenha

percebido

convidado não fora

nem esperada era

sua vinda

sentiu-se à vontade

como desfrutasse

das honras

dos sabores

dos gestos – só horrores!


Momento inusitado

pratos servidos

saberes aromas

em repasto suculento

para ele apenas

um pretexto

como a carne ao queimar no fogo

sentia favorável o contexto

interessado em conduzir

o jogo


que ele armava e conduzia

com talento

a cada nova pedra

que caía

aumentava a angústia

entre os convivas

maior era o seu

contentamento

ao dominó macabro se juntava

cumplicidade sorrateira

alucinada

o que restara

das pessoas vivas

do lado onde pousara

ser invisível poderoso

acumulavam-se as pedras

derrubadas

por debaixo da mesa

transitavam

peças fatais sem frugalidade

igual à que era antes

compondo o arranjo em

trágico ritual

de monstros-gigantes


uma a uma

caiam as pedras

os peitos cansados

ofegantes

jogadores assustados

careciam do ar a cada perda

vozes a menos

atravessam a mesa

a sensação de estar em Hamelin

e uma dor cá dentro

pungindo

alma apodrecida

doendo em mim...

Manaus, 05 de fevereiro de 2021

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