Não acabou nosso carnaval
desta vez ele não veio
fez-se cinzento o
firmamento e tudo o mais
o medo
a angústia
a dúvida
mal escondidas
máscaras sobrepostas
rostos quase desprovidos
desconhecidos sentimentos
vírus e vermes
conluio trágico
trágica empreitada
movendo-os solerte
insana caminhada
ao fim: o encontro de
tanto corpo inerte
os dias todos
como todas as noites
a quarta-feira que
não se sabe ao certo
quando a areja
brisa refrescante
a todos proteja
ou se queima o sol
esmaecendo até fazer-se
vil deserto
outras são as cinzas
desta quarta-feira
pierrôs colombinas piratas
rainhas do Egito escondidas
não se sabe em que lugar
se não há matas
tombadas árvores
folhas ressequidas
ódio feroz contra
elas se desata
na morbidez de desejos
insensatos
inspiração engenhos
malfazejos
transformam tudo em
extenso cemitério
os atos todos
conduzindo ao fim
cinéreo.
Nestes dias nesta banda
não é da dor a despedida
menos de algum amor
que agora não se
canta
ódio posto em seu lugar
as contas não são aquelas
medidas de
acumulação invulgar
assustadora
bolsos off-shores bancos
esconderijos arrogantes
nem é sério o homem que
a conta
multidão em covas
acomodada
moça triste
ela sim, amofinada
as vantagens contadas
por distraído faroleiro
impossível de contar
em meio ao nevoeiro
estrelas não chegaram
à janela
nem à toa estava a
Vida
esmaecida, sem sangue
amarela
tambor clarins silenciados
dia teimoso em fazer-se
alvorecente
convocação que traz
à vida
a sofrida gente
só um ruído macabro
se ouvia
conduzindo mais um finado
ao destino
irrecorrente...
bandeiras outrora de alegria
não cabem na mão
do mal regente
deixa-as ao largo
também o mau gerente...
Manaus, 11-02-2021
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