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Carne-(o)ficina

Por que conter as

lágrimas

sem nenhum motivo

quando o oceano de dores

desemboca nos rios

da vida

fazendo-se morte

a que todos nos convida?

Tanto faz chorar

por Agnaldo

por Nicette, Luiz Fernando

Geraldo, Paulo,

Heitor José, Zeno

Ronaldo e quantas mais

Marias

mesmo Henry

sacrificado em cerimônia

que ao animal mais feroz

jamais inspiraria...


Para quê

reter nos olhos cada dia

menos puros

o sentimento conspurcado

agredido

cortado a foice

em tempo tão

inseguro

desarrumado rumo desarrimado

sofreguidão imposta

pelo tanto que é

escuro


É preciso verter

forma líquida

de expressão assaz antiga

e incessante

força capaz de transformar

em briga

trazendo às vezes

ao semblante a marca

do golpe dilacerante



Nem em Hamelin

logrou o flautista

formar cortejo

mágico que Merlin

sequer imaginou

outros os ratos

sem medo nem pejo

pelo demônio escolhido

que os enviou

ira sagrada nas valas

do mundo

juntando escolhos

escória mais o que seja

na construção de certa história

malfazeja


Nem sempre os dias se sucedem

a natureza superada pelo homem

não sabemos de ondem vêm

de onde procedem

vírus e outros vermes que o consomem

esperanças que se têm ou que se tinham

nem sempre tudo ocorre assim

havendo sempre um que se assume

legítimo herdeiro de qualquer Jim

Jones que seja

qual Herodes tendo nas mãos

a cabeça de João

servida em vil

bandeja


Olha à frente

olhos lúcidos e perspicazes

enche a mente

da ciência de tudo quanto fazes

e se eles – olhos atentos

te orientarem por onde fores

divisará atrás podendo também

ser na frente

torres irmãs

cobertas de horrores


terror não faltará

nessa outra derrubada

nem tabernáculos

altares

cofres bem guardados

se esconderão do

simbolismo malsão

e caricato

é bom já ir se

acostumando

à força da mentira

mesmo se pretendes

levar tua vida a sério

a promessa é que

terás abreviado o

caminho em direção ao

cemitério.


Diga-o a memória

de Henry

aos quatro anos condenado

ao instinto assassino e à malícia

tudo feito como se sabe

e de que há

até mesmo quem sorri

sacrificado no açougue da milícia

se por ventura escapado da

polícia


Digam-nos outros

a que o vírus não dá trégua

à lágrima fluente

desmedida a qualquer régua

que de tantos olhos se

desata

resultado que se julga imponente

onipotente

geração de mente putrefata.


Manaus, 08-04-2021

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