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Do pântano ao planalto

Pouco a pouco, vai-se voltando à normalidade, ainda que este seja conceito variável segundo quem o formule. Há os que veem normal a violência recorrente, tanto que não se pejam em defender, promover e disseminar o livre comércio, porte e uso de armas de fogo. Ou seja, a normalidade, como tudo o que envolve interesses diversos, enseja significados igualmente diferentes. As previsões do que será o próximo mandato do Tripresidente não fogem a essa regra. Os que a ele se opõem preferem esquecer tudo quanto ele foi nos dois períodos em que governou, e desconfiar do que ele vem prometendo. Nesse caso, preconceitos, todos eles gerados pelo ódio à Vida (dos outros) e pela exacerbação de sentimentos excluídos do que consideramos condição humana. Daí a suposta oposição do mercado, especialmente aquele que mexe só com papéis, quando o segmento correspondente nunca teve ganhos maiores do que os obtidos nos governos Lula. Muitas lideranças evangélicas continuam a disseminar teses apocalípticas, como se não fosse o mesmo o Presidente que assinou pelo menos duas leis que asseguram o respeito a todas as profissões religiosas e o livre funcionamento de seus templos. Até os que se viram privados da terceira refeição e contavam ter definitivamente se libertado da fome acham de engrossar a cantilena mentirosa e, no limite, criminosa dos nossos últimos dias. As Forças Armadas, em cujo seio se abriga boa parte de protetores dos delinquentes de porta de quartel (que Humberto de Alencar Castelo Branco chamava vivandeiras provocadoras dos granadeiros) não têm uma só queixa do tratamento que lhes foi dispensado por Luís Inácio Lula da Silva, ao longo de seus dois mandatos. Terá sido a última vez em que demandas das três forças contaram com a atenção e o respeito de seu então comandante-em-chefe, jamais empenhado em torná-las uma espécie de milícia ou guarda pessoal. Os 87% de aprovação, quando descia - não quando subia - a rampa do Planalto parecem nada dizer a esses círculos, talvez prova mais que provada de que posição social e econômica e escolaridade nem sempre trazem sabedoria e discernimento. Resta, então, olhar atento ao que se chama interesse, nem sempre legítimo, honesto e humanitário. O desavisado prontamente atribuiria a resistência à resposta das urnas de outubro à perversidade que ajudou a covid-19 a matar quase 700.000 pessoas. Ou o desejo de estancar a violência aumentada pela normalização do uso de armas de fogo. Ou, ainda, ao impedimento e repressão da desertificação da Amazônia. Com a habilidade e o talento de que ninguém pode duvidar se o mínimo de bom senso houver e um pouco de honestidade restar, Lula vai vencendo as barreiras que fogem, mais que à realidade, às necessidades do País. A começar pela escolha do vice-Presidente, um homem que, apesar de ser tido - e razões não faltam - como de direita, é também um homem direito. Depois, por ampliar o palanque eleitoral segundo critérios nem sempre aceitos por seus próprios correligionários. Reúne-se em torno de Lula, portanto, o que poderíamos chamar de ecumenismo político, tanta a capacidade do líder que começou no chão de fábrica e ocupa lugar de destaque na sociedade mundial. Aqui, outra particularidade de que não se pode jactar qualquer antecessor de Lula: de pária na sociedade internacional, o Brasil tornou-se protagonista, recuperando a altitude perdida desde que o ex-metalúrgico desocupou o Planalto. Uma metáfora se impõe: o Brasil volta ao planalto, depois de chafurdar em extenso e insensato lodaçal.

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