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Uma resenha crítica

(EDIÇÃO ESPECIAL DE 1º DE MAIO | BLOG DO SONKHA)


"O anticomunismo não deixa o sonho comunista morrer": (Resenha crítica do artigo de Lúcio Carril, por Herberson Sonkha*


No calor das lutas do 1º de Maio, entre memórias da resistência operária e os enfrentamentos contemporâneos diante da ofensiva neoliberal e neofascista, me deparo com o potente artigo do sociólogo Lúcio Carril — militante histórico do Partido dos Trabalhadores (PT) do Amazonas, intelectual orgânico da classe trabalhadora e símbolo vivo da permanência do projeto comunista no Brasil profundo. Seu texto, intitulado "Quem diria, o anticomunismo não deixa o sonho comunista morrer", é mais que um desabafo memorial: é um manifesto, um alerta e um convite à reflexão revolucionária.

Como comunista negro e editor deste Blog, reafirmo desde já a força e a urgência dessa escrita. Carril não escreve de um gabinete acadêmico frio e alheio ao povo: ele escreve da lama do igarapé, do cheiro da cela, da verve das aulas e do sangue derramado dos que tombaram pela utopia. É um sociólogo forjado na floresta e no cárcere, no grito e no livro, um boto vermelho que não apenas sobreviveu ao colapso do socialismo real, mas que viu em sua queda um novo terreno para o reencantamento da luta de classes.


A linguagem como campo de batalha ideológica


A análise marxista do discurso presente no texto de Carril é refinada e visceral. Ao refletir sobre a mutação das formas de propaganda anticomunista — da imprensa oligárquica à indústria de fake news — ele revela a manutenção do conteúdo ideológico da dominação de classe, ainda que travestido em novas formas tecnológicas. Aqui se faz necessária a lembrança do mestre Louis Althusser e sua teoria dos Aparelhos Ideológicos de Estado (AIEs), dos quais a mídia sempre foi ferramenta estratégica. Hoje, o que antes se apresentava com sutileza (um título enviesado, uma entrelinha manipuladora), tornou-se grotesco, brutal e cínico.

Carril denuncia que o anticomunismo — outrora articulado pelas "cinco famílias" da velha imprensa — hoje se locomove em "trem-bala", em "ondas eletromagnéticas", na viralização instantânea da mentira. A comunicação não mais busca o convencimento racional, mas sim a colonização afetiva das massas pelo medo, pelo ódio e pelo desespero. É a subjetividade da classe trabalhadora que está sendo atacada — e o artigo nos convoca a perceber isso com nitidez.


Memória, resistência e persistência comunista


Mas talvez o momento mais poderoso do artigo de Carril seja quando ele conjuga memória e resistência. Ao relatar que ainda sentiu o cacetete da ditadura e sobreviveu às suas celas fétidas, ele assume uma posição de sujeito histórico — que não apenas observa a luta, mas a vive. E o faz para dizer: “ao comunismo não foi dado sequer um breve descanso na história.” A frase é devastadora e ao mesmo tempo esperançosa.

O anticomunismo voltou, sim, e com força. Mas sua existência só reafirma que o comunismo não morreu — está vivo nas utopias, nas práticas de solidariedade, nas greves, nas ocupações, nos quilombos, nas aldeias, nos terreiros, nas mentes insanas dos

estúpidos que nos temem, como diz Carril, e também nas consciências despertas dos que sonham, mesmo cansados.


Um texto para nossa classe, por um dos nossos


É preciso também saudar o estilo do artigo. Carril escreve como quem conversa com o povo, com linguagem que oscila entre o ensaístico e o poético, entre a ironia crítica e a profundidade teórica. Seu “boto vermelho” nada contra a maré do academicismo estéril e propõe uma sociologia encarnada — popular, combativa, pedagógica.

Na condição de comunista negro, trabalhador, amante da palavra e da luta, agradeço a Lúcio Carril por esse texto. Ele nos dá força para seguir. É um presente para este 1º de Maio, mas é também uma convocatória permanente: para estudarmos os mecanismos ideológicos que nos cercam, para resistirmos com inteligência e ousadia, para não deixarmos que apaguem nossas bandeiras vermelhas nem transformem nossa história em caricatura.


Conclusão: a luta segue, em todas as formas e em todos os meios


A resenha deste artigo não pode ser neutra, porque o artigo não o é. Trata-se de um texto que exige posicionamento e ação. A classe dominante, através de seus novos e velhos aparelhos ideológicos e repressivos, aposta na mentira, na desinformação e no medo. Mas nós, a classe trabalhadora, temos a história, a teoria, a memória e a esperança.

Como escreveu Carril: “o comunismo está vivo nos nossos sonhos, nas nossas lutas e nas

mentes insanas dos estúpidos.” Mas acrescento: ele está vivo também nas palavras de quem ousa escrever com coragem num tempo de covardia. Viva o 1º de Maio! Viva Lúcio Carril! Viva a luta da classe trabalhadora! Viva o comunismo!

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*Herberson Sonkha é professor, compositor e militante do movimento social na Bahia.

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