Partido-Poder-Estado é um tripé da política. Partido só existe na perspectiva do poder político, que desde Maquiavel se confundiu com poder de Estado. Isto se fortaleceu muito nos países socialistas, sustentado no dogma da ditadura do proletariado, com o domínio absoluto de um só partido sobre o Estado. Foi uma exacerbação maquiavélica do poder político e um desvio da teoria leninista de hegemonia da sociedade civil.
O domínio do partido sobre o Estado numa ditadura do proletariado se daria para enfraquecer o Estado e aumentar o poder político da sociedade civil. Lênin dizia que era missão do partido propiciar o "fenecimento" do Estado. Isto não foi feito.
Num Estado burguês democrático, sob a égide de um partido de centro-esquerda como o PT, a preocupação deve se dar no fortalecimento da democracia através do aumento de poder da sociedade civil. O Estado deve garantir a livre atuação e organização das instituições civis para que elas garantam a democracia. Sem essa garantia sempre haverá possibilidade de golpe autoritário ou golpe de manobra estratégica numa guerra híbrida.
A participação de partidos políticos na divisão do bolo do poder é necessária e é de natureza deles, os partidos. Na democracia é assim. Não existe partido único ou de plena hegemonia.
À sociedade civil cabe a crítica, o embate e o fortalecimento do projeto democrático e de cidadania. É preciso aproveitar o espaço democrático para fortalecer os sindicatos, as associações, o quarto setor, as organizações sociais.
Não é mais possível confundir poder político num Estado burguês com poder popular. Este só se dará com o fortalecimento da sociedade civil e não do Estado.
Compreendo a dificuldade das lideranças civis e populares em entender o papel da sociedade civil num governo democrático-popular. Essa confusão já fez parte dos governos petistas no passado recente, quando entidades nacionais indicavam nomes para assumir cargo na esfera federal, criando assim uma relação híbrida naquilo que deveria ter uma distância conceitual.
Concluo, reafirmando que sociedade civil e Estado devem manter um afastamento fundamental. O Estado é burguês e um dia a sociedade civil já foi berguesa, mas hoje ela aponta para transformações que devem superar o domínio de classe da burguesia, a quem o Estado serve, esteja ele sob o governo democrático e popular ou não. É a natureza do Estado numa sociedade capitalista.
Lúcio Carril
Sociólogo
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