"Mais uma vez, estamos vendo um genocídio se desenrolar diante de nossos olhos, e a Organização a que servimos parece impotente para impedi-lo. Trabalhei nesses corredores durante os genocídios contra os tutsis, os muçulmanos bósnios, os yazidis e os rohingyas. Em todos os casos, quando a poeira baixou sobre os horrores perpetrados contra populações civis indefesas, ficou dolorosamente claro que havíamos falhado em nosso dever de cumprir os imperativos de prevenção de atrocidades em massa, de proteção dos vulneráveis e de responsabilização dos perpetradores. E assim tem sido com as sucessivas ondas de assassinato e perseguição contra os palestinos durante toda a existência da ONU.
As empresas de mídia social sediadas nos EUA estão suprimindo as vozes dos defensores dos direitos humanos enquanto amplificam a propaganda pró-Israel. Os controladores online do lobby de Israel e os GONGS estão assediando e difamando os defensores dos direitos humanos, e as universidades e os empregadores ocidentais estão colaborando com eles para punir aqueles que ousam se manifestar contra as atrocidades.
Vim para esta Organização pela primeira vez na década de 1980, porque encontrei nela uma instituição baseada em princípios e normas, que estava totalmente do lado dos direitos humanos, inclusive nos casos em que os poderosos EUA, Reino Unido e Europa não estavam do nosso lado. Enquanto meu próprio governo, suas instituições subsidiárias e grande parte da mídia dos EUA ainda apoiavam ou justificavam o apartheid sul-africano, a opressão israelense e os esquadrões da morte da América Central, a ONU estava defendendo os povos oprimidos dessas terras. Tínhamos o direito internacional do nosso lado. Tínhamos os direitos humanos do nosso lado. Tínhamos os princípios do nosso lado. Nossa autoridade estava enraizada em nossa integridade. Mas não mais.
Esse é um caso exemplar de genocídio. Os governos dos Estados Unidos, do Reino Unido e de grande parte da Europa são totalmente cúmplices desse terrível ataque..Esses governos estão ativamente armando o ataque, fornecendo apoio econômico e de inteligência e dando cobertura política e diplomática para as atrocidades de Israel".
*Craig Mokhiber, em uma carta divulgada ao se aposentar nesta semana do cargo de diretor do escritório em Nova York do Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos.
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