top of page

Um grito sem Ypíranga

A independência política dos povos não é igual àquela conquistada pelos indivíduos em relação a outros, mas tem importância tanto quanto a outra. Pessoas e nações só dão conta de seus próprios desígnios e conseguem superar seus problemas se mantiverem claros os propósitos que os animam. Se, individualmente, cabe a cada um assumir as responsabilidades decorrentes do livre arbítrio de que é dotado, nas nações organizadas a vontade coletiva há de prevalecer, posta acima de qualquer outro interesse que não o bem comum. A despeito dos vícios que marcam a vida social, ainda não encontramos melhor forma de convivência fora da democracia, em permanente e vigorosa busca de que só a Política é veículo. No espaço em que atuam os cidadãos - todos, de preferência a apenas reduzida parcela -, nenhuma forma de relação produzirá efeitos positivos, se a vontade de um é levada ao exagero de eliminar a consideração dos sonhos, objetivos e propósitos dos outros. Ao que eu saiba, até agora nada se inventou que supere a democracia, para equacionar e resolver os problemas próprios à sociedade de classe. Ocorre, em alguns momentos, de falsos profetas apresentarem-se como salvadores, tentando impor seus próprios caprichos e buscando fazer de todos os demais meros incensadores de sua falsa deidade. É mais ou menos isso que vimos experimentando, desde 1 de janeiro de 2019. A ninguém era dado ignorar a folha corrida do atual Presidente da República, mesmo se episódio ainda por conhecer em sua integridade o tenha extirpado das Forças Armadas sem a punição de ato que lhe foi atribuído pelos ex-camaradas. Dali em diante, só se acumularam razões para o sofrimento que agora ele impõe aos brasileiros, de que a responsabilidade pela morte de mais de 580 mil de nossos irmãos parece café pequeno. A isso soma-se o sofrimento dos sobrevivos, acrescentado à dor da perda de seus entes queridos com a inflação correndo solta, o desemprego levando fome a milhões de famílias, a crise energética pretextando restrições ao bem-estar de todos, a saúde e a educação postas a serviço da pior causa. Isso tudo se tornou mais transparente neste 7 de setembro, quando novamente o Presidente da República revelou seu compromisso com a necropolítica, como a tornar realidade o que antes já dissera: aprendi a matar. Dou por compreensível a preocupação do Presidente com seu próprio destino e o de sua família. A insistirmos em levar adiante a democracia, ele já pode antever o momento em que, punhos presos a algemas, será conduzido a um presídio, tantos os dispositivos penais e constitucionais que sua conduta malsã justifica. Pior, destino igual pode ser dado à sua prole, excluída a filha menor, que ele atribui a uma fraquejada. Ontem, as cidades de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo substituíram o riacho do Ypiranga e mostraram chegado o momento de nos tornarmos independentes dos autoritários, cuja vida inútil não tem servido mais que à infelicidade dos seus contemporâneos.

2 visualizações1 comentário

Posts recentes

Ver tudo

França e franceses

Mais uma vez vem da França o anúncio de novos avanços na História. Esta quinta-feira marca momento importante daquela sociedade, há mais de dois séculos sacudida pelo lema liberté, fraternité, egalité

Uso indevido

Muito do que se conhece dos povos mais antigos é devido à tradição oral e a outras formas de registro da realidade de então. Avulta nesse acúmulo e transmissão de conhecimentos a obra de escritores, f

Terei razão - ou não

Imagino-me general reformado, cuja atividade principal é ler os jornalões, quando não estou frente à televisão, clicando nervosamente o teclado do controle remoto. Entre uma espiada mais demorada e ou

bottom of page