Triste caminhada

Não tem bastado aos que vivem de costas para a Vida e tudo o que a dignifica, sepultar mais de 612 mil pessoas. É preciso ir mais longe, para saciar apetites que se atribuía aos outros animais, qualificados pelo ambiente em que vivem. Selvagens, no entanto, não estão apenas nas matas e florestas em que a cadeia alimentar impõe sua lógica. Se, no ecúmeno dadivoso da natureza o equilíbrio só é alcançado quando a cadeia alimentar se mantém, transplanta-la para a sociedade humana só se realiza na tragédia, na catástrofe, na Desvida. Hienas e abutres, quando têm aparência semelhante à que caracteriza os seres humanos, cumprem sua perversa e triste sina. Fazem-no, concorrendo para ampliar o morticínio causado por um vírus, tanto quanto promovendo o desmonte do aparato governamental criado e financiado para proteger a população, não importam a cor da pele, a etnia, a conta bancária - enfim, o bem-estar de todos. Este, em si mesmo, desafio rejeitado por muitos, porque interessados na manutenção da desigualdade. Grande parte da população brasileira sabe, reconhece e proclama quanto era melhor a Vida, não faz tanto de tempo assim. Não que atos ilícitos não fossem praticados. Todos, atos passíveis de mobilizar o aparelho Judiciário, não milícias oficiais ou não, nem gabinetes onde a semente do ódio é cultivada. Por isso, e dados os arranjos com se entretêm as elites, difícil imaginar que há expectativas favoráveis à uma disputa honesta e digna, em outubro de 2022. Até onde a vista alcança, a candidatura até aqui preferida continua alvo das más e criminosas intenções. Enquanto isso, os iguais se juntam. O que a pandemia fez, portanto, pode multiplicar-se, à sombra de palácios e gabinetes mantidos com o sangue e o suor de todos.