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Foto do escritorProfessor Seráfico

Tragédia em palco aberto

Ao brasileiro dotado do mínimo discernimento não escaparão o tamanho e a profundidade de nossa tragédia. Ainda que não tivessem morrido mais de 615 mil brasileiros em razão da incúria e do negacionismo das autoridades, federais quase todas, de outros níveis algumas, é impactante o conjunto de elementos integrados ao quadro nefasto em que estamos todos inseridos. Dentre os fatos que atestam e testemunham a monstruosidade cometida contra os brasileiros, uma se refere a situação corriqueira, biologicamente necessária, parte do cotidiano das mulheres. Refiro-me à forma como o governo federal negou-se a minimizar o sofrimento imposto às mulheres pela natureza. Submetidas ao ciclo menstrual, por si mesmo constrangedor e incômodo, milhões de brasileiras não têm como manter a higiene do corpo (em consequência, do espírito também), pelo simples e ofensivo fato de que não lhes resta o dinheiro com que comprar os itens necessários à sua proteção. Houve quem, não sem tempo, lembrasse as autoridades de que suprir as menarcas com absorventes de proteção lhes faria enorme bem, tanto do ponto de vista sanitário quanto psíquico. Qual a alegação oficial para negar esse benefício, de que se valeriam sobretudo as mulheres pobres? Não há dinheiro para financiar a aquisição dos artigos de higiene reclamados. Ao mesmo tempo, as mesmas autoridades urdiam, sempre em conluio com seus cúmplices do Legislativo, mecanismo que assegura o prêmio com vultosas importâncias, o que é pior, atribuídas segundo um orçamento paralelo, em tudo e por tudo ofensivo à Constituição, aos amigos do peito. Delas não se podem saber o valor, os beneficiários e os objetivos a que se destinam. Prática mais que inovadora, do manancial de expedientes antirrepublicanos e autoritários, no extenso e trágico arranjo a que foi dado o nome de política do é dando que se recebe. O tão desejado toma lá-dá cá, em que o centrão se especializou desde sua origem, e encontra ambiente cada dia mais propício. Ainda mais estimulado pelo aplauso dos que um dia anunciaram o fim da corrupção e chegaram a cantar musiquinha constrangedora, se coubesse na cabeça dos cantores e dos cantados alguma coisa próxima do que chamamos ética, moral ou equivalentes. Enquanto a nação sangra e perde centenas de milhares de parentes e amigos; enquanto as mulheres sangram com a rotina que a natureza lhes impõe, ainda somos forçados a ver em sangria desatada a última esperança de que temos futuro. Nem nos poderemos preocupar mais com o leite derramado. Nossa tragédia é pintada com sangue, tão ao gosto dos necrófilos, mesmo se o oásis de honra que pode habitar mesmo o coração dos monstros bípedes já dispensa até o esconderijo e os porões em que foram mortos outros brasileiros. Tudo agora se faz em palco aberto. Menos, é óbvio, a distribuição das verbas que financiarão as eleições de 2022.

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