Tragédia anunciada

Ao fim do primeiro dia de trabalho da CPI da Covid-19, a colheita dos senadores já traz resultados que seriam surpreendentes, se não atribuíveis a quem os produz. A Comissão recebeu uma carta firmada pelo depoente, ex-Ministro Henrique Mandetta, na qual encontrarão motivo suficiente para incriminar o Presidente da República. O que se lê na carta, documento que ganhará importância cada dia maior, a inscreverá e projetará por toda a História, como advertência sobre os riscos da escolha dos eleitores. Tudo o mais que disserem outros depoentes não bastará para apagar o que passou pelos olhos do ex-Chefe de Mandetta. Sem alcançar-lhe a mente ou encontrar, menor que fosse, um cantinho no fundo do coração. O que significa dizer que só tende a ficar mais grave o envolvimento do Chefe de governo com a mortandade que ameaça alcançar safra de 500 mil vidas sacrificadas. À data em que a carta foi assinada, 20 de março de 2020,sete pessoas haviam morrido no Brasil, em decorrência da pandemia. O documento traça a linha de tempo da conduta do Ministério de Saúde, desde quando ocorreu o alerta das autoridades sanitárias mundiais. Relata as providências adotadas e recomenda ao Presidente providências reiteradamente desdenhadas, quando não simples e grosseiramente rejeitadas. O resultado, transformado em dor e lágrimas, nem assim demove as intenções presidenciais. Nem o maior responsável por elas se vê abandonado pela turba ensandecida que o aplaude, saúda e verbera gritos de adoração.