Tosca audácia
- Professor Seráfico
- 7 de dez. de 2023
- 2 min de leitura
Aprendi, nem sei mais onde, que todo canalha é audacioso. Não que aos probos falte essa qualidade, ou que ela se registre escassamente nos grupos em que as pessoas honradas são maioria. Contudo, a origem da audácia, em uns e outros, é diferente. Nos indivíduos dotados da mínima condição de probidade, ela integra variado e positivo elenco de virtudes, nem todas no mesmo grau em que estão presentes. Nos canalhas, porém, ela assume papel às vezes preponderante, e isso não a revela mais que um estimulante sorvido como o dependente sorve a droga de cada dia. Nunca ocorre de o canalha audaz colocar essa característica a serviço dos demais, porque se trata pura e exclusivamente de servir-se a si mesmo. E aos que o incensam, aplaudem e rendem homenagens. O canalha e seus iguais, porque tal tipo de audácia seria impossível manifestar, não houvesse os que dela também se aproveitam. Mesmo os mais rematados covardes se curvam diante da audácia, bastando para tanto fazer as quatro operações da Matemática. Se vislumbram o ganho, menor que ele seja e da natureza que lhes interessa, sempre haverá gente disposta a seguir o canalha-mor. Alguns desses aliam conduta audaciosa á forma tosca como veem o Mundo/mundo. Ignorantes da configuração física do Planeta e desdenhosos em relação à sociedade dos homens, têm horizonte reduzido, o que infelizmente não os têm impedido de chegar ao poder. Neste, sua próprias limitações intelectuais, morais, políticas e ideológicas põem tudo a perder. Menos a pose e a ausência de autocrítica. Daí a verborragia não raro odienta que recheia seus parcos e rasteiros juízos. A crise criada por Nicolás Maduro, cuja tosquicidade combina-se bem com a audácia dos seus símiles, diz muito a respeito disso. Com a única diferença de que sequer é original. Antes dele, o general Galtieri já o fez, com os resultados que as famílias argentinas enlutadas jamais apagarão da memória. Jânio Quadros, o primeiro dos nossos supostos inimigos da corrupção cujo final de vida se fez na Inglaterra, insinou o mesmo, há décadas. Mais de meio século antes. Precisamente, 52 anos. Logo, é mais uma farsa, porque a História é o mais rigoroso magistrado. Se os homens que passam por ela, entrados pela porta principal ou pela cloaca, perdoam-se uns aos outros, com ela acontece o contrário. Aprende-a quem o quer.
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