Talvez uma dose de sutileza

Ainda parece cedo assegurar que Trump não voltará à Casa Branca. Afinal, ele já se mostrou capaz do que quer que seja para chegar, manter-se e voltar ao poder. Faltassem outras evidências, o ataque ao Capitólio em 2023 impõe-se de forma incontestável. Se na prática dos negócios o ex-Presidente norte-americano não construiu fama lisonjeira, na política, muito menos. Sua riqueza material, cuja origem o envolve em constrangimentos e dificuldades com as autoridades fiscais, policiais e judiciárias, corresponde à aversão por ele gerada nos círculos onde se alimenta algum laivo de humanidade. Autoritário, grosseiro, arrogante,  agressivo é o mínimo que pode ser dito dele. Pelo menos por pessoas de alguma forma permeáveis à ideia de civilização e humanidade. Durante os últimos meses, Donald Trump não fez mais que confirmar essa impressão que ele sempre fez questão de projetar e manter. A disputa com Joe Biden pareceu a Trump uma oportunidade de assegurar sua volta ao poder. A estratégia de sua campanha, tem-se dito, foi toda ela traçada sobre os pontos fracos do opositor. Com o que o abrutalhado candidato não contava era a substituição de um opositor enfraquecido, por Kamala Harris. Esta, muito mais jovem que o atual Presidente, entra na disputa senhora de conhecimentos hauridos no ambiente em que tramitam os feitos fiscais e criminais dos Estados Unidos da América do Norte. Juntem-se duas circunstâncias que saltam aos olhos do mais desatento observador – a juventude de Kamala e seu nível de informação – à sua própria condição de mulher negra, e só então se poderão avaliar os riscos que Trump agora sabe que enfrentará. Isso não quer dizer que, eleita, Kamala conduzirá a nação bélica mais poderosa do Mundo ao abandono da pretensão imperial de dono do Planeta. Com mais sutileza, é quase certo que as nações amigas continuarão providas dos arsenais que alimentam as guerras lucrativas em qualquer parte do Globo. As cenas da convenção dos democratas em Chicago certamente geraram expectativa pelo menos desconfortável, se não ameaçadora, no ex-Presidente. Mas ainda não se pode dizer que ele está derrotado. Sobretudo, quando um Kennedy, democrata cujo pai e um tio foram assassinados. O pai, em campanha contra os republicanos. aos quais Bob Jr. se alia. Um pelo outro, é preciso saber qual será o troco. Kamala e Trump, não podemos esquecer, são frutos da mesma árvore.