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Foto do escritorProfessor Seráfico

Surdez criminosa

Os brasileiros já sabemos do que é capaz o ex-capitão excluído das forças. Tanto ele faz questão de mostrar-se autoritário, que muitos dos lúcidos que ainda se acercam dele fazem algum - tímido e acovardado que seja - esforço para conter seu ânimo belicoso e odiento, quando pretende depreciar o ser humano. Muitos dos generais e outros subalternos que o cercam sabem disso, e bem melhor que qualquer outro de nós. Já conviveram e sabem com quem estão tratando. Admita-se que ele pensa que a irreverência até em velórios e em ambientes religiosos é apenas demonstração de autenticidade - ele é o que parece ser. Coerente, autêntico, sem rodeios ou falsa polidez. A rigor, ninguém tem nada a ver com a grosseria, a ignorância, o baixo calão e os maus costumes característicos de quem quer que seja. Não, porém, quando se trata de alguém que ocupa posto de liderança e comando em uma sociedade e em um poder, republicano e democrático, como o imaginamos e desejamos. Neste caso, diz respeito a cada um de nós, menos porque ao tributo que todos pagamos (feitas as desonrosas exceções), o comportamento do indivíduo que se observa. O Presidente, seja lá qual for a razão, não parece conhecer limites, embora se atribua à caserna e à formação por ela reivindicada atitude moderada e respeitosa. Limitada, portanto, aos interesses dos que lhe devem obediência ou lhe concederam mandato. Se, nos quartéis, pode ser exigida a disciplina que a hierarquia impõe, as relações de um Presidente da REPÚBLICA com os cidadãos é substancial e formalmente diferente. Dou de barato que muitos dos que sufragaram o nome do ex-capitão hoje candidato à reeleição por ele mesmo um dia condenada, em 2018, teve base na surdez diante de tudo quanto ele fez e dele foi dito. Do envolvimento com ação terrorista que explodiria a usina de abastecimento de água do Rio de Janeiro, até a intimidade com pessoas abaixo de toda suspeita. Assim, mesmo, mais de 50 milhões de brasileiros acharam de pouca monta as denúncias e suspeitas. Como antes já o fizera a Justiça especializada que o eximiu de culpa. Não é possível admitir, porém, que a surdez preferencial continue, a ponto de ignorar o grau de participação dele na morte de aproximadamente 200.000 vítimas da covid-19. Nem que não se o tenha ouvido dizer que, antes de 31 de dezembro, mandará para o Congresso projeto de ampliação do número de ministros do STF. O precedente mais conhecido está no Pacote de Abril de 1974. Então, Ernesto Geisel, o bom general que SÓ admitia tortura "em alguns casos" (!!!), respondia ao fato de o Poder Judiciário ser acionado, sempre que os direitos garantidos pela Constituição (assim mesmo, uma carta autoritária) levavam os prejudicados à sua corte mais alta. Se ainda há um resto de dignidade e juízo na maioria dos brasileiros, é certo que não permitiremos a volta ao período mais nefasto de nossa vida republicana. O contrário expressaria nossa conformidade à figura criada pelo direitista mais inteligente que o Brasil já teve. Vira-latas, disse Nélson Rodrigues, é o complexo de que somos afetados.

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