José Alcimar de Oliveira*
O conhecimento da verdade
vos libertará (Jesus, o Nazareno)
O mestre Benedictus de Spinoza (1632-1677) ensina em sua magna obra ÉTICA que o ato de "compreender é, pois, a virtude absoluta da mente" (est igitur mentis absoluta virtus intelligvere) e que "o ódio nunca pode ser bom" (odium nunquam potest esse bonum).
O ódio cega, cancela mediações, sobretudo o ódio que manipula o sentimento religioso. E quando o ódio se organiza como politica, é uma das expressões do fascismo.
Durante o período nazifascista boa parte do continente europeu, que julgava possuir o monopólio da razão, submergiu no mais devastador sono da razão.
Bem antes, no chamado século do iluminismo, o espanhol Francisco de Goya (1746-1828) havia dado o aviso de incêndio (pré-benjaminiano) de que "o sono da razão produz monstros".
Numa conferência intitulada Que é isto - a filosofia?, de 1955, mais de 20 após ter aceito e ocupado a Reitoria da Universidade de Friburgo, numa Alemanha sob o poder nazista, Heidegger (1889-1976), de forma tardia, afirmou que "a filosofia, pelo contrário, não é apenas algo racional, mas a própria guarda da ratio (razão)".
Se for o caso, voltemos ao menos ao bom senso cartesiano, o que nesses tempos de desinibido obscurantismo e ódio ao conhecimento já seria um ato revolucionário.
Descartes (1596-1650) assegurava em 1637 que "o bom senso é o bem mais justamente distribuído no mundo". Uma pessoa pode sim reclamar de tudo, mas nunca de que tenha recebido bom senso (razão) de menos ou excessivo.
Segundo Kant (1724-1804), negar ou trabalhar para impedir o bom senso é um crime contra a natureza humana, cuja determinação original consiste em avançar no processo de esclarecimento para superar o cárcere da ignorância.
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*José Alcimar de Oliveira é professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Amazonas, teólogo sem cátedra, segundo-vice presidente da ADUA - Seção Sindical e filho do cruzamento dos rios Solimões e Jaguaribe. Em Manaus, AM, aos 20 de outubro do ano da virada de 2022.
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