top of page

Soneto da Loucura*

A minha casa pobre é rica de quimera

e se vou sem destino a trovejar espantos,

meu nome há de romper as mais nevoentas eras,

tal qual Pentapolim, o rei dos Garamantas.


Rola em minha cabeça o tropel de batalhas

jamais vistas no chão ou no mar ou no inferno.

Se da escura cozinha escapa o cheiro de alho,

o que nele recolho é o olor da glória eterna.


Donzelas a salvar, há milhares na Terra

e eu parto e meu rocim, corisco, espada, grito,

o torto endireitando, herói de seda e ferro,


e não durmo, abrasado, e janto apenas nuvens,

na férvida obsessão de que enfim a bendita

Idade de Ouro e Sol baixe lá das alturas.

_______________________________________________________

Transcrito de D.Quixote. Cervantes. Portinari. Drummond. São Paulo, 1987, p.12. A primeira das imagens da obra é reproduzida em GALERIA/COLEÇÃO, deste blog, como abertura do ANO NOVO de 2024. O poema acima está na página 12.

Posts recentes

Ver tudo
Quase certeza

Pelo que leio, ouço e vejo nos mais diferentes órgãos de comunicação, é certa a condenação dos integrantes do que a Polícia Federal e a...

 
 
 
Termos preferidos

O jargão é uma das características de grupos profissionais, frequentemente distantes da compreensão das pessoas comuns. Os médicos e os...

 
 
 
Anjos, vilões e...c

Como previsto, foi iniciada ontem a tomada de depoimento dos réus considerados o núcleo crucial do frustrado golpe de estado, vitimado...

 
 
 

Comments


bottom of page