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Soluções e problemas

Os números oficiais sobre a violência praticada em território brasileiro destacam o ambiente amazônico sob outro ponto de vista. Detentora da maior floresta tropical do Planeta e da maior rede hidrográfica, a região é cantada em prosa e verso por uns e tem servido para a mais tola ufania. Outros, preocupados em contar, não em cantar, fazem fortuna aproveitando-se ora da ingenuidade (ou da cumplicidade) da maioria dos que nela habitam, ora da exploração honesta ou criminosa dos recursos naturais por ela ostentado. Lembro-me do tempo em que se chegou a criar um Ministério, na ilusão de que isso bastaria para oferecer à Amazônia as condições de aproveitamento de seu potencial e do enriquecimento de suas populações. Tome-se a palavra enriquecimento no sentido mais adequado à condição humana que se supõe presente em cada indivíduo. Exploração em que a Justiça corresponda à redução - se não for possível a eliminação - das desigualdades e torne realidade a oferta de oportunidade a todos que a habitam. Leem-se as cifras correspondentes ao ambiente amazônico, seja o que corresponde aos fenômenos da natureza, seja o que diz respeito às relações sociais, chega-se à constatação de que somos a um só tempo fonte de soluções, e manancial de problemas. No primeiro caso, graças à presença de princípios ativos aptos ao uso medicinal, ao fornecimento de energia (solar e hidráulica, sobretudo), à exploração inteligente e socialmente justa de tantos outros recursos que a natureza fornece. Do outro lado, que poderíamos chamar de clima social, o que vemos parece trágico contraponto. Mata-se por tudo, tanto quanto se mata por nada. Desde a dizimação de populações interioranas, povos originários ou não, pela ação do mercúrio ou pela ação dos sicários que o dinheiro sujo paga. Nem o Ministério da Amazônia prosperou, nem sua cópia improvisada chegou a resultado maior que zero. Refiro-me à concessão extraoficial da autoridade de condestável da região ao então Vice-Presidente da República, saudado pelos áulicos de sempre como o grande salvador. Ele ganhou mandato de senador, porque assim o quiseram os eleitores do Rio Grande do Sul. Se o compararmos com outro dos seus colegas, o atual deputado Ricardo Salles, não há como negar que este colheu vitórias. Ainda hoje, a boiada do garimpo ilegal, da expulsão dos camponeses de suas terras, da extinção de povos indígenas segue a rota que o ex-Presidente do IBAMA defendeu e implantou. Ao invés de produzir as soluções que a natureza propicia, temos aumentado o rol de problemas com que se hão todos os brasileiros. Para isso contribuíram ambos, o que nada fez e o que fez quase tudo. Não importa a eles o mal causado às populações amazônicas.

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