Viva o Dia do Sociólogo.
10 de dezembro.
Minha sociologia é da sarjeta e da várzea. Tenho os pés sujos da lama do asfalto quente e nos paralelepípedos da velha cidade os limpei. No meio da floresta aprendi o canto dos pássaros e a olhar com a desconfiança da onça-pintada. Foi do povo mura que meu sangue se fez história.
Minha sociologia não segue modelos. Quero mesmo é que modelos, paradigmas e estereótipos vão à puta que os pariu. Nasci no bairro de São Lázaro e nem santo eu sou. Me fiz ateu pela magia errada que não matou minha mãe. Sou mesmo é um caboclo de sorte que se embrenhou no tecido social podre das periferias de Manaus e que só respira o oxigênio compartilhado pela sumaumeira.
Sou um sociólogo da Amazônia que aprendeu a ver o ser humano com a esperança do verde que brota e do seu caule que jorra a seiva vermelha da vida. O ser que reconheço tem história e não se atomizou na angústia autofágica. Meu humanismo tem a consciência da sociologia crítica e a confiança na transformação coletiva e revolucionária.
Sou um sociólogo da floresta que olha a vida com a verve dos poetas e a prosa encantada do Milton Hatoum.
Já aprendi muito nesta vida, mas o pouco vive a me espreitar, dizendo que não sei nada.
A Amazônia é meu equilíbrio e vive a cutucar minha pequenez. Não sou sequer uma semente. Mas sou um sociólogo comunista e humanista a desafiar o capital e sua sanha destruidora. Deixo a dialética da natureza para as matas que cercam minha insignificância.
Minha sociologia não quer saber das escolas de pensamento originárias do açoite do índio e do negro. Prefiro a escola flutuante do catalão e aquela de madeira do ramal do paredão. É lá que minha sociologia se encontra, respirando o ar de gente que resiste e não os conceitos que enrolam.
Já não me convenço com a masturbação acadêmica e toco a punheta que me faz gozar. Se lá é o sociologuês que dá prazer, fico com o lascívia do beiradão e o beijo ardente da cabocla em ovulação.
Minha sociologia tem amor, sexo, felicidade e ternura. É feita de sangue, suor e carnaval. Respira o oxigênio da floresta e abraça os povos da minha história. Sou um sociólogo da Amazônia e do mundo.
Lúcio Carril
Sociólogo
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