Jamais o dito popular mostrou-se tão sábio: quem cala, consente. Não se trata, aqui, do silêncio devido aos mortos, pois estes têm sido gerados pela ação e a omissão dos silentes de hoje. São contados aos quase 600 mil, exatamente porque produzidos pelo que a CPI do Senado busca esclarecer. Além da responsabilidade referida ao holocausto imposto ao povo brasileiro, os depoimentos prestados servem para desnudar os sentimentos inspiradores dos que detêm o poder no Brasil. Para eles, é absolutamente normal fazer da morte alheia mais uma oportunidade de negócio. Não se veja nesta afirmação nenhuma ingenuidade, desde que se sabe como operam os agentes e quais os resultados da subserviência às leis do mercado e suas trágicas inspirações. Veja-se, porém, a crença na possibilidade de serem todos os indivíduos de algum modo portadores do que (desculpada a reiteração do dito) meu professor de Direito Penal chamava oásis de honra. Algo que, segundo o juízo do sempre saudoso mestre, há de existir em todo bípede aparentado do humano. Vai-se vivendo e descobrindo quão generoso era o velho mestre da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Pará, Aldebaro Cavaleiro de Macedo Klautau. O mesmo que coraria, ao descobrir num colega a intenção de estender em benefício próprio os limites em que o Poder Judiciário concedeu um habeas-corpus. Tancredo Neves já o dizia e ainda há os que se lembram: A esperteza, quando é grande demais, engole o dono. Arremataria o poeta e tradutor Inocêncio Machado Coelho: os gatos com que caço são tão espertos quanto os cães com que caça meu crítico. Daí o destino melancólico e complicado que o advogado Túlio Silveira escolheu para si mesmo, ao depor ontem na CPI do Senado. Acabou por deixar firmada na mente dos investigadores a impressão de que mais do que conhecer os fatos ora investigados, tem responsabilidade por muitos deles. Com uma agravante que, se qualquer leigo pode identificar, logo foi captada pelos membros do órgão constituído pelo Senado: o depoimento do consultor (ou advogado? ou funcionário? ou - sabe-se lá o quê) da Precisa correspondeu a uma verdadeira confissão. A tentativa de usar o instituto protetor contra o arbítrio não se presta a cobrir delitos, se há a liberdade para apurá-los. Essa a importância maior de termos os tribunais funcionando. Como se tem visto ao longo dos trabalhos da CPI da covid-19.
top of page
Posts recentes
Ver tudoMais uma vez vem da França o anúncio de novos avanços na História. Esta quinta-feira marca momento importante daquela sociedade, há mais...
70
Muito do que se conhece dos povos mais antigos é devido à tradição oral e a outras formas de registro da realidade de então. Avulta nesse...
290
Imagino-me general reformado, cuja atividade principal é ler os jornalões, quando não estou frente à televisão, clicando nervosamente o...
70
bottom of page
Comments