Sigilo, Ciência e República
- Professor Seráfico
- 11 de dez. de 2022
- 2 min de leitura
Qualquer fenômeno observado segundo ponto de vista rígido e submisso a interesses do próprio observador está fadado a valer nada. A articulação do fenômeno em causa com o contexto mais amplo em que se insere e as relações com outros pontos, vizinhos ou remotos, é que dará sentido à analise e permitirá avaliação adequada de seu impacto social. No caso da sociedade, mais que na vida privada, essa percepção do mundo de ponto de vista tão paupérrimo acaba por causar danos a quase todos. A todos, nunca, porque sempre haverá os beneficiários do que os ingênuos pensam erro ou equívoco involuntário. Exemplo mais que transparente do mal que está contido no tratamento dos fenômenos sociais sob a óptica mencionada pode ser encontrado na conduta do (des)governo estertorante, ao colocar sob o pesado manto do sigilo tudo o que contém ações criminosas cometidas por seus integrantes. Os sucessivos decretos de sigilo assinados pelo Presidente em fim de mandato seriam previsíveis, fôssemos mais atentos na observação dos fatos. Quem é hostil ao conhecimento e faz da ignorância marca e estilo de uma (indi)gestão administrativa não se peja de tornar segredo o que é essencial ao que se chama república. Se a coisa (res, em latim) é pública, por que ocultá-la? Foi porém, o que não cansou de fazer o quase ex-Presidente, ao longo desses anos de vexame por que passaram 215 milhões de brasileiros, respeitadas as exceções. Essa obsessão por tornar segredo o que a moral, as leis e a Constituição condenam, mas mesmo assim foi praticado, corresponde ao ódio à Ciência. Esta, sabe qualquer semialfabetizado, produz conhecimento e é graças a ela que novos padrões de civilização têm sido experimentados ao longo dos séculos. O contrário dela é a ignorância, em muitos casos justificada pela privação de oportunidade a extensas camadas da população. Então, o sentimento de qualquer pessoa interessada na sua e na vida de seus contemporâneos - a curiosidade - acaba por ser tolhido, agredido, impedido, punido até. O que justificaria ocultar atos e decisões atinentes à vida pública e aos legítimos interesses dos cidadãos, a não ser o desejo de prejudicar a república, o público e o Estado Democrático de Direito?
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