Sem originalidade sequer

Varia entre a ignorância, a distração ou a desonestidade o juízo que faço, em relação a certos comentários lidos ou ouvidos sobre o recém-instalado governo de Javier Milei. Sentimento indefinível, sou levado ora à confusão, ora à dúvida. Sei, porém, que o autoproclamado anarcocapitalista levado ao governo da Argentina nunca escondeu suas preferências, tendências e seus compromissos. Anarquistas defendem a extinção do Estado; os capitalistas admitem o Estado, desde que inteiramente entregue aos seus desígnios e caprichos. Enquanto uma coisa não pode ser totalmente destruída, que sejam satisfeitos os apetites dos outros. As promessas- que os trabalhadores e demais pobres argentinos só podem deplorar- de Milei falam por elas mesmas. Nada há a acrescentar, em relação ao que dele se sabia. Também ocorre de serem quase todas as decisões, cuja concretização ele defende com todas as armas preferidas pela direita as mesmas, que outros países puseram em prática. O ideário neoliberal as inspira, tanto quanto inspirou outras nações, com os resultados por demais conhecidos. Nem foram resolvidos os problemas dos países infelicitados, nem foi reduzida a desigualdade neles persistente. Talvez o exemplo contundente do Brexit, que seu promotor Boris Johson renega agora seja desconhecido - por Milei e os que tentam interpretar suas decisões e compreender suas próprias intenções. A menos que se trate, igualmente, de vínculos ideológicos indissolúveis, inexpugnáveis. A história desses tempos marcados pela desigualdade, enxovalhados pela violência, desmoralizados pela cumplicidade de agentes públicos, ainda precisa ser escrita. Desta vez, com as tintas da verdade, não as cores sombrias das fake-news, tão afeitas aos direitistas de todo matiz.