Sejamos francos: as enchentes que levam sofrimento, dor e luto aos gaúchos só parcialmente podem ser vistas como um fenômeno natural. Tanto quanto a inundação de grande parte da Amazônia, em determinado periodo, as chuvas caídas naquele Estado são previsíveis. Entre o imprevisto e o imprevisível há enorme diferença. Lá como aqui, as maiores vítimas têm sido as de sempre. Os pobres, cuja sobrevida decorre sob permanente risco, perdem suas casas, os móveis adquiridos sabe-se a que escorchantes juros, além de chorarem a perda de pessoas queridas. Socorrem-nas, quase sempre, medidas paliativas por eles mesmos financiadas e a caridade pública. No primeiro caso, a liberação parcial ou total de dinheiro que é deles, o FGTS. No outro, uma reunião de esforços de uns poucos seres humanos que levam a sério o preceito de amor ao próximo. Em sua grande maioria, pessoas que labutam de sol a sol, para garantir um mínimo de dignidade a uma vida de várias formas desgraçada. A estes se juntam muitos dos que concorrem para a tragédia. Os que agridem e devastam o meio ambiente, físico, humano e moral. E, é forçoso dizer, sempre com o apoio de autoridades a quem caberia o dever de zelar pela saúde ambiental e individual. Não raro, tais parceiros e promotores da tragédia agem graças a favores de toda ordem, como os que lhes asseguram a manutenção de negócios nem sempre limpos, ignorados não só procedimentos éticos, mas também agredida a própria legislação. Nunca é demais lembrar que o regime escravocrata é registro copioso em várias - se não em todas - regiões do País. Nem se conhece ao certo quanto deixa de entrar nos cofres públicos em tributos estabelecidos em lei. Também não pode fugir ao olhar do observador e de todos os cidadãos, quanto alegra e faz a festa dos sempre ganhadores, a situação de calamidade pública. Uma espécie de álibi para o cometimento de crimes e desvios de recursos. O adjetivo aí, qualificando a multidão dos que sofrem perdas, enquanto os outros se mostram calamitosos pelas ações que os acumpliciam aos fenômenos da natureza. Reafirmo, sem medo de errar: governos jamais erram; apenas escolhem os beneficiários de suas decisões.
top of page
Posts recentes
Ver tudoRatificar a condição de surrealismo embutida em nosso cotidiano é o mínimo - nem por isso menos justo - a que se pode chegar, diante de...
170
Então, o IPM instaurado para apurar o envolvimento do hoje inelegível em atos terroristas no Rio de Janeiro, foi apenas uma farsa? Os...
290
Repito, talvez pela enésima vez: enquanto a satisfação das necessidades da fração mais pobre da população brasileira não for pelo menos ...
20
bottom of page
Comments