Sem desmentido

Recorro mais uma vez à sabedoria popular: dize-me com quem andas, dir-te-ei quem és. Isso não autoriza romper laços com pessoas de quem discordamos, seja qual for o móvel da discordância. Virtude maior sempre será a tolerância, sem a qual a vida social se arruína. Entre o convívio fraterno e respeitoso e a cumplicidade, todavia, correm as águas de imensurável oceano. O apoio a projetos agressivos aos valores que protestamos cultivar e seguir, em especial quando colocam em risco a vida humana, extrapola os limites da simples tolerância, daquela condição inescusável ao sadio relacionamento humano. Haveremos de descobrir as razões pelas quais o homem renuncia a trajetória que o tornou profissional respeitado, qualquer que seja a razão. Do cardiologista Marcelo Queiroga, Presidente da Sociedade Brasileira de sua especialidade, nada poderíamos esperar que desautorizasse o prestígio profissional adquirido. Convidado para substituir um estranho no ninho da Saúde Nacional, credenciado como o antecessor não o era, ao médico pode ser dado o álibi de que cria na possibilidade de quebrar a resistência do Chefe. No seu caso, no fundo de sua anuência estaria uma irrevogável aposta na Ciência, não na obediência, cega, subserviente, abjeta. Admitamos ter sido essa a causa de figurar no Ministério. Nada melhor, dizia também a sabedoria antiga, que um dia após o outro – com uma noite pelo meio, diziam espertamente outros. Os dias se sucedem e a conduta dos dois presidentes não muda, nem muda a equipe do mais poderoso deles. A sabedoria da sentença inicial, lá em cima registrada, ainda não foi desta vez desmentida.