Absurdos se vão cometendo na vida pública brasileira, que quase não é admissível que eles se apresentem sucessivamente em nível maior. A imposição de sigilo a documentos oficiais para esconder a prática de crimes de variada ordem ainda está por ser suficientemente apurada e punida, absurdo ainda maior é cometido, e não pelo Poder Executivo. Desta vez, a Câmara dos Deputados emula o outro poder. Uma competição nada dignificante, em que o grau de indecoro parece nunca ser exaurido. A aprovação de mais privilégios para os agentes políticos, mais que um ato indecoroso, é uma ofensa grave à própria cidadania. Rigorosamente, a aprovação de projeto que sacraliza as autoridades transforma-as em divindades postadas em um olimpo imaginário, como se fôssemos todos governados por um Zeus de fancaria. Sequer se poderia admitir vigente no Brasil um sistema democrático e republicano, face à recusa dos agentes públicos em assumir as consequências dessa condição. Sua exposição à crítica e ao escrutínio de todo e qualquer cidadão vem daí, constituindo o ônus correspondente ao caráter público de suas atividades. Na verdade, o projeto aprovado imoralmente pela Câmara desafia a Constituição, reforça o sentimento de casta que se apodera de grupo numeroso de deputados e exige do Senado o desempenho de um papel inequivocamente corregedor. A rejeição do projeto pelo Senado, assim, é a única decisão que se pode reclamar da um dia chamada Câmara Alta.
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