Segredo e negócio

A distância de mais de 50 anos não apagou a convicção antirrepublicana, nem o ímpeto autoritário de boa parte da sociedade brasileira. Ao contrário, acrescentou a essas péssimas vocações o mais extremado egoísmo. Vale tudo, desde que fração crescentemente minoritária disso tire proveito. Dissolvem-se, assim, o conceito do culto da res pública e tudo o que, pelo menos em tese, deveria acompanhá-los. O avanço do capitalismo, ao ponto em que escasseia a probabilidade de superar o egoísmo em que se fundamenta, sacrifica os interesses coletivos, promovendo e disseminando a prevalência do individual sobre o coletivo. É disso que trata o segredo em torno da distribuição de verbas orçamentárias, igualando.o Erário ao cofre de uma empresa. Não obstante inscrita na Constituição Federal, a publicidade das decisões e atos administrativos sucumbe diante da voracidade dos que deveriam representar interesses coletivos. Aos cidadãos é vedado saber qual o destino da montanha de recursos com os quais eles contribuem, em troca do que seria bem-estar social. Ou seja, a cidadania é negada, cabendo mantê-los como meros contribuintes. Consumidores, também. Quando isso ocorre, não há país que o revele com tamanha transparência: negociações essenciais à Política; negócios típicos da Economia reduzem-se a meras negociatas.