Se não é genocídio...

Descobrem pouco mais de 7 milhões de testes PCR da covid-19 estocados em depósito no aeroporto de Guarulhos, SP. Destes, quase 97% vencem em dezembro e janeiro próximos. O restante, cerca de 280 mil, vencerá em fevereiro e março de 2021. Os testes aplicados chegam a 5 milhões. Ou seja, menos da metade dos testes que poderiam - e deveriam – ter sido usados, no combate à doença. Como sempre, o governo federal tenta jogar a responsabilidade do crime (porque de outra coisa não se trata) para governadores e prefeitos. Fingem as autoridades federais, também como de hábito, ignorar manifestações do Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Segundo os dirigentes desse coletivo, não faltaram advertências sobre a falta de itens indispensáveis à coleta do material a ser testado. Em outras ocasiões, o Presidente da República, seus diletos e diretos auxiliares e fanáticos seguidores têm repelido a acusação de genocidas. Acusação baseada em fatos, não em mensagens geradas no gabinete do ódio, nem transmitidas nas redes (anti) sociais. Agora, ao descaso, ao desdém e ao tratamento falacioso e criminoso da pandemia soma-se este péssimo exemplo de desídia e compromisso com a morte. Se ao Ministério da Saúde cabe distribuir os materiais e providenciar os meios necessários ao combate da covid-19; se esses materiais e meios estão disponíveis; e se, ainda assim, não foram entregues aos Estados e Municípios, nem os Secretários de Saúde viram levadas em conta suas advertências – estamos diante da mesma conduta que os seguranças do Carrefour tiveram, quando torturavam João Alberto Silveira de Freitas. Neste caso, uma pessoa foi a vítima; no outro, milhões delas. Em ambos os casos, porém, o desejo de morte está presente.