A prisão dos dois fugitivos da penitenciária de segurança máxima de Mossoró deve ser tida como ponto inicial de nova trajetória. Não dos detentos devolvidos à penitenciária, mas dos responsáveis pela segurança pública, nas esferas federal e estaduais. Afinal, transcorreram quase dois meses, desde que os dois integrantes do Comando Vermelho saíram de Mossoró. As circunstâncias em que eles deixaram a cadeia intrigam, sobretudo pela facilidade que cercou a fuga. Mas não é só isso que impõe máxima e permanente atenção para o problema principal. Para chegar à cidade paraense de Marabá, os fugitivos percorreram cerca de 1.600 quilômetros. No trajeto, utilizaram diversos meios de transporte e pagaram por isso. Logo, se a fuga decorreu de uma operação coberta pela ação de uma facção criminosa, é imperativo atribuir a participação de agentes dessa facção nos sucessivos deslocamentos por amplo território das regiões Norte e Nordeste. Tal circunstância e o cenário que ela sugere levam qualquer observador a admitir a existência de um estado paralelo com intensa atividade, dentro e fora das penitenciárias. Sem isso, mesmo que a fuga em si não contasse com facilidades só por ficção admitidas como acidentais, o tempo gasto para o deslocamento e o espaço percorrido pelos fugitivos indicam a necessidade de ir fundo na questão. Há muito o que investigar, sobretudo porque se constata a existência de uma rede de apoio que atua solta e desembaraçada, fora das grades. Em suma: pode-se apostar que muitos dos que financiaram e tornaram viável o périplo dos dois fugitivos misturam-se aos cidadãos de bem, porque não lhes faltam os bens que asseguram uma vida faustosa. Algumas conclusões vêm sendo apontadas, menos de 24 horas após o retorno dos dois a Mossoró. A desarticulação entre organizações policiais da União e dos Estados e o uso pouco efetivo da inteligência seriam, pelo menos eles, dois dos mais graves problemas a enfrentar. Algo que tem a ver, por exemplo, com o papel que Ronnie Lessa desempenha no crime organizado e nas milicias. Se esses cordões não forem puxados, relacionados e levados às ultimas consequências, de nada terá valido devolver à penitenciária de Mossoró os dois apenados.
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