Tem sido objeto de divergência o conceito que faço de certos indivíduos aos quais nego o status de ser humano. Pela reação a determinados fenômenos comparo-os mais aos monstros da literatura que aos ditos semelhantes. A meu juízo, eles têm muito mais semelhanças com os animais não dotados de inteligência e consciência que com outros que, como eles, pisam nas duas patas traseiras ancestrais. Pessoas que me são próximas chamam a atenção para o fato de que, tendo-as assim forneço bom argumento diante dos tribunais que um dia haverão de enfrentar, pelo modo como consideram e tratam os seres verdadeiramente humanos. Os problemas decorrentes desse dilema – são humanos ou monstros tipos dessa estirpe? – me são postos hoje, depois de ter assistido ao vice-Presidente da República encontrar motivo de riso na tortura a que foram submetidos muitos brasileiros, durante a ditadura. No meu agnosticismo, não vejo nem tenho como aceitar reação tão reveladora, mesmo que já não devesse surpreender-me com qualquer das monstruosidades recorrentes nos tempos que vivemos. Faz poucos dias, arquivos até então mantidos sob sete chaves foram divulgados, relatando as atrocidades e crimes cometidos pelos meganhas da ditadura, em instalações que mantinham sob custódia presos políticos. Todas elas, setores financiados com o dinheiro do contribuinte brasileiro, parcialmente ampliados com verbas destinadas por outros países (os Estados Unidos da América do Norte, como de hábito, à frente deles). Ao fim e ao cabo, a ratificação do que a Comissão da Verdade, o Brasil- Tortura Nunca Mais! e outros documentos o comprovam à saciedade. Os brasileiros souberam, por exemplo, da conduta de militares da ativa naquela época, tão diferentes dos que os sucederam nos quartéis. Os autos que eles compulsaram, quando membros do Superior Tribunal Militar, não deixaram qualquer dúvida, pelo menos para eles, profissionalmente preparados nos mesmos ambientes dos que hoje mandam no País. Pois é um dos que os sucederam nos bancos das escolas militares quem zomba – deles, dos torturados, mortos e feitos desaparecer, dos familiares que perderam seus parentes queridos e a própria sociedade brasileira. O riso sarcástico e monstruoso, porém, há de repercutir em toda a comunidade internacional, porque se trata de ofensa de caráter universal, tão distante está do exigível pela condição humana. Não sei qual a pena que os monstros sofrem, além daquelas impostas pela natureza. Nesse caso, porém, isso não bastaria, mesmo sabendo-se que o agressor, pela proximidade biológica que acaba por torná-lo aceito na comunidade humana, um dia terá fim.
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