As desavenças internas no PT não são inéditas, nem surpreendem até os menos informados. As divergências acompanham a trajetória do Partido, desde seu nascimento. Fruto da persistência e da lucidez de um trabalhador experimentado no que depois se chamou chão de fábrica, ele acabou atraindo figuras de proa da intelectualidade brasileira. Ou seja, aos operários fundadores juntaram-se artistas, escritores, atores, professores e parte de membros da comunidade católica. Não demorou que esse segmentos mais escolarizados fossem guindados a posições mais altas na hierarquia partidária. Esse fenômeno acabou por levar PT a sucessivas lutas internas, de tal modo que sua aparência é a de uma colcha de retalhos, uma espécie de mosaico ideológico, por essa condição, incapaz de realizar os sonhos dos seus primeiros fundadores. Nesse processo, foi-se perdendo parte das bandeiras anunciadas, com o prejuízo decorrente do distanciamento gradativo dos que permanecem, crescentemente precarizados, no chão da fábrica. Parte dos que controlam a máquina do PT preferiram fazer-se reféns de Arthur Lira e outros políticos de mesma índole e apetite. Os que ainda acreditam nas propostas originais e esperam ver resgatadas as ideias, os valores e as propostas fundadoras, por isso sentem-se abandonados e diminuída sua influência nas decisões que em tese interessam ao Partido. Não basta, porém, atribuir a Lula e a certa tendência dele por desestimular o surgimento de novas e necessárias lideranças. É preciso ir além, seja na formulação de autocrítica consistente, seja na contestação de qualquer decisão que se afaste ainda mais dos ideais anunciados no século passado. O poder pelo poder não constrói se não situações como a que hoje marca a existência do Partido dos Trabalhadores. Sêneca, o filósofo romano, diria que melhor é perder a boa (!) guerra, que ganhar o mau combate.
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