Exatos 450 anos nos separam da sempre lembrada noite de São Bartolomeu. Governada por Carlos IX, da família Médici, a França perdeu estimados 3.000 de seus filhos, huguenotes. Foram eles massacrados pelas forças oficiais, na esteira da reforma protestante. De lá para cá, além de espetáculos artísticos (em tela ou palco), a História vai assumindo contornos diferentes, sem que se dispensem ações semelhantes àquela, onde quer que o ódio e a pequenez da alma (quando ele as têm) dos governantes se altere muito. Alteram-se, sim, nomes e razões. Nos acontecimentos da França de 1572 os protestantes estavam na posição oposta à ocupada hoje pelos que, ilegitimamente até, falam em nome deles. Os números, compreensivelmente, multiplicam-se. Os brasileiros estamos próximos de registrar 700.000 mil mortos, com a "vantagem" para os que governam, de que a morte chegou, chega e até quando chegará não se sabe, sem a necessidade de um só projétil desperdiçado. Esse tipo de projétil infla o número apenas quando em ação contra os pobres, estejam onde estiverem, se não na rua, em alguma sub-habitação encravada nos covões e favelas das cidades. A omissão, como se sabe, nem por ser daninha e perversa, tem vantagens sobre a ação concreta, embora esta também não seja dispensada, quando o exemplo da Médici do século XVÏ e seu filho mostra-se inspirador. Há apenas 68 anos, 24 de agosto relembrou a noite de um dia dedicado a um dos doze seguidores do andarilho de Nazaré. Diferente do fiel tornado apóstolo, Getúlio Vargas não precisou ser atingido por uma bala disparada pelo opositor. Nem seu corpo foi encontrado na ponta da praia do mar Cáucaso, como a do amigo, discípulo e correligionário de Jesus. Certamente, o caudilho gaúcho não compartilhava (termo da preferência dos operadores de redes malfazejas) das ideias e dos propósitos de grande parte da população. Sabia, porém, dos interesses que os animava. Não delegou a tarefa de matar os adversários, nem os transformou em inimigos. Havia outros, dentro e fora do País, a quem agradaria praticar o ato que o já Presidente eleito pelo voto popular, trouxe para sua solitária e decidida responsabilidade. Com um tiro no coração, disparado em plenos aposentos dele que detinha o poder, deu o primeiro passo para entrar na História. O resto está nos livros e não faz de Getúlio outro homem, embora repetindo registro frequente na trajetória humana sobre a Terra: enquanto não há esquecimento, não há que falar de morte. Não agrada, nem aumenta a convicção a propósito da inteligência do homem saber quanto convivem conosco os Médici, os Carlos IX, sem ninguém que se equipare ao fazendeiro e político dos Pampas. Sabe-se apenas que São Bartolomeu continua vivo. E procurado. Mesmo que pelos que ontem o sacrificaram. Mas a melhor lembrança é sempre dele.
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