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Rotina, nada mais

Quando a realidade nada traz de novo, a não ser que se dê esse caráter a dificuldades que só se agravam, a rotina acaba levando à desesperança, ao desânimo. Essa transformação de todos os fenômenos em mera banalidade só pode constituir normalidade para os que se contentam com pouco. Os aspectos exclusivamente materiais da vida não são o motivo desta reflexão. Há que considerar, porém, a absoluta impossibilidade de sonhar, quando na vida não cabe outra coisa, se não o que se costuma chamar de sobrevivência. Em outras palavras: sem sonho, a rigor a vida não passa do nível exclusivamente animal. Refiro-me, aqui, aos outros, não ao bípede que todos supomos inteligente. A este, qualquer carência que o impeça de sonhar representa séria restrição de ordem existencial. Não obstante, a desigualdade ontem denunciada pela Oxfam (Oxford Comitee for Famine Realif)revela algo que, devendo ser percebido como monstruoso, é tenazmente produzido. É condição que só tem crescido, condenando populações inteiras à fome, à doença, à ignorância, à morte. Há, em compensação, o outro lado da moeda. Aquele que se apropria da riqueza produzida, sempre de forma crescente e escandalosa. Enquanto a Oxfam mostra a nudez do rei, os reunidos em Davos se entendem para multiplicar a desigualdade obscena a que se têm dedicado. Quando os que se sabem condenados à vida inferior acordarão, ainda não se sabe. No Brasil, talvez as mais de 620 mil vidas perdidas desde 2019 ajudem a compreender as razões de ser assim.

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