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Retrato de uma época

Barco transportando mais de mil refugiados afunda quando se aproximava da Grécia. Pelo menos 750 foram as vidas perdidas, não bastassem os sofrimentos que forçaram o deslocamento daquela multidão de seu local de origem. Buscavam apenas, mesmo contra a vontade, ter o direito de viver. Como gente. Com dignidade. Para os afogados naquele naufrágio, foi o fim de uma vida difícil, sendo que a morte dos pobres é mais fácil. Ela ocorre por tudo. Inclusive por fome. Por doenças preveniveis mas não previstas. Por inanição, porque muitos creem que nem todos devem alimentar-se. Por balas perdidas (por quem? Por que?), também. Pelo pecado, este sim, o mais mortal de todos: a pobreza. Encontra-se alguma referência à morte desses, em esparsas e fugazes notícias. Nos jornalões, assim como nas telas. Passados poucos dias, é preciso tratar de assuntos mais sérios. Mais comoventes. Mais agradáveis - quem sabe? Como o desaparecimento de um brinquedo que leva 5 pessoas divertidas a um passeio sem volta. Poucas, sim, mas pessoas cujas contas bancárias pagariam os salários costumeiros, por muitos anos à outra multidão que o barco afundado conduzia. Faz uma semana, o destino dos ocupantes do submarino perdido em águas atlânticas do Canadá rende a solidariedade dos que, invejosos, contam como se fossem suas as perdas no fundo do mar. Nada surpreendente. Os cinco não são (ou eram?) pobres.

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