Mede-se a liderança não pela quantidade dos liderados, mas pelos resultados que sua conduta logra. Lembrar de quantos foram os andarilhos que se fizeram companheiros do pregador da Galileia ajuda a entender o fenômeno. Eram doze, dizem os livros, sagrados ou não, cheios de palavras - desnecessárias, como dizem os bibliófobos. Pois daquela andança resultou o que se chama Igreja. A primeira a consagrar o líder do pequeno grupo, até que o corpo exangue, crucificado à falta do pau-de-arara, deixasse a sugestão e a ilustração do que viria depois. A caminhada continua faz perto de dois milênios, espalhando-se pela Terra, ora despertando os homens de boa vontade, ora estimulando práticas e costumes que ao líder original repugnava. Chegamos ao ponto em que hoje nos encontramos. O chicote usado para expulsar os vendilhões do templo fez-se substituir pelos revólveres e pistolas, estes sim, eficazes para impedir a divisão proposta pelo chefe dos andarilhos. Substituiu-se também o sentimento fraterno que – eram dele estas palavras – faria de nós todos irmãos, pela voracidade que nos faz competidores, em torpe e trágico concurso. Eis o ponto a que chegamos. Fruto e produto dos sucessores do peregrino nazareno, muitos não medimos esforços para desdizer as práticas do que, hipocritamente, chamamos Mestre. A subversão que desafiava o Império Romano pouco a pouco se foi transformando, até chegar à submissão aos novos impérios. Sem que estes precisem, por mão própria, promover a eliminação dos dissidentes. Basta pôr na mão dos submissos delegados, não o relho original, nem o vigor da palavra dita; para executar tarefa tão bruta bastam os modernos artefatos, cuja colheita sequer exige sujar as mãos, como emporcalhadas já estão as mentes. (Que os suínos, com seu olhar permanentemente triste, me perdoem se os ofendo). Melhor ainda para essa especialíssima subespécie, se mesmo a arma de fogo encontra na natureza o seu sucedâneo. Não que ele consista no tsunami impiedoso, nas lavas vertidas de um vulcão enfurecido, nos ciclones, tornados e furacões, no deslocamento de colossais massas de gelo, nas faíscas que a energia do Universo nos envia. Essas são manifestações das quais cabe pouco falar em prevenção. Melhor, portanto, aproveitar suas irmãs conduzidas pelas inexistentes mãos de um vírus, com frequência tendo a acompanha-lo a multidão de vermes solidária aos propósitos extintores até de esperanças. Propósitos mais facilmente alcançados quando emergem dos mais profundos lagos poluídos da desumanidade a liderança adequada. Porque da mais profunda escuridão do espírito de seres assim é que se nutre a Indesejada.
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