O sucessor de Hugo Chávez, dentre as muitas bravatas que costuma promover, anunciou o que ocorreria, caso o opositor viesse a ser eleito para a Presidência da República. “Um banho de sangue” ocorreria, segundo Nicolás Maduro. Esperar dele, mais tosco que seu grande criador e inspirador, um coronel que comandou invasão armada contra o Parlamento venezuelano, é despropósito que só os menos informados podem praticar. A despeito de tudo, em especial das sanções impostas pelos governos dos Estados Unidos da América do Norte àquele país, o golpismo de Hugo Chávez não o impediu de alcançar alguns bons resultados. É o que diz boa parte da população venezuelana, a que preferiu opor-se ao sucessor dele. Outros preferiram buscar guarida em países governados pelos que se orientam segundo as ordens da Casa Branca. Agora, o pronunciamento de Maduro desperta nova onda de protestos, eis que aparece como pretexto para o requentamento de café que vem sendo servido há muito tempo. Dessa bebida se valem os opositores das políticas sociais postas em prática por Chávez e nem sempre mantidas por seu sucessor. Maduro sequer pode manter muitos dos ganhos experimentados pelos compatrícios mais pobres, sujeitos todos ao cerco e às restrições determinadas pelo governo dos Estados Unidos da América do Norte. O problema que agora tenta comprometer o Presidente da República Bolivariana da Venezuela não atraiu a atenção de muitos observadores. Não chegaram sequer a ser tímidas as análises e referências produzidas, por negligenciarem aspecto importante a comentar. Menos, ainda, o apetite por estabelecer a necessária comparação. Sem essa conduta, no mínimo recomendável, tudo quanto se disser corresponderá à submissão a terceiros interesses, não aos interesses dos venezuelanos que lá constituem o terceiro estado (como se dizia na França pré-queda da Bastilha), nem aos da sociedade mundial. Os países que têm fronteira com a Venezuela também não se beneficiam dessa omissão, a um só tempo maliciosa e desonesta. Refiro-me ao que ocorreu em janeiro de 2022, quando o Capitólio norte-americano viu frustrado o banho de sangue que a Donald Trump tanto agradaria. Por enquanto, Nicolás Maduro fica no discurso; no caso da reação trumpista, às palavras foram acrescentados atos de extrema violência, dos quais se registra um punhado de mortos. Quisessem as autoridades militares norte-americanas, Trump teria delas o apoio necessário ao banho de sangue com que ele desejava responder à derrota que Joe Biden lhe impôs. Entre o discurso e o fato, somente os tendenciosos e desonestos preferirão dar prevalência à palavra – que compromete a honra da vítima, sem tirar-lhe a vida. O bravateiro sendo punido, enquanto o assassino desfruta da cumplicidade generalizada.
Retórica e prática
Atualizado: 25 de jul.
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