Duas notícias, sentimentos diferentes. Nesta manhã do sábado, a Rússia metida em desconfianças inicia a vacinação contra a covid-19. Irônicos, seus governantes batizam a vacina com o nome do satélite que humilhou o Ocidente. Era outro o século, o milênio também. Então, o Sputnik antecipava a visão azul de Gagarin. A segunda notícia, em seu extraordinário conteúdo, desnuda a fraqueza sócia da perversidade com arrogância ostentada pelos governantes brasileiros. Não tenho discernimento que baste a identificar a fuga ao ordinário, se a falsidade costumeira ou as consequências do anúncio sobre a saúde da população. Ambas, porém – o início da imunização no distante país europeu e as regras emitidas pela ANVISA – têm a motiva-las o mesmo fenômeno. Referem-se às duas à pandemia. Lá, a Sputnik V começa a ser aplicada. Porque hoje é sábado? Não sabemos, escondido não se sabe em que estrela o poetinha. Ele o disse, dito está. Enquanto dure. Aqui, a agência oficial a que cabe autorizar o uso da vacina, qualquer vacina, diz o que não se esperava um dia fosse dito. Por eles, os que nos governam, saiba-se logo. O mercado não é confiável. Pelo menos, quando está em jogo e questão a vida humana. Não é pouco, nem deve ter custado pouco dizê-lo. Tem a ver com isso a outra regra editada pela ANVISA. Reserva-se ao Sistema Único de Saúde, o malsinado, malfalado e perseguido programa de proteção social, o papel imunizador. Sob sua gestão serão executadas as atividades ligadas à vacinação contra a covid-19. A autorização virá, mesmo em caráter emergencial. Uma espécie de fresta aberta na caverna, para que entre um primeiro e ainda frágil raio de luz. Isso é menos importante, diante do conteúdo das recomendações da ANVISA. Mesmo na fase 3 de testes, a vacina poderá ser aplicada, pois para isso as autoridades concederão o necessário fiat, faça-se! Serão levados em conta, de acordo com as autoridades da vigilância sanitária, a eficácia da vacina, a segurança na sua aplicação, os controles de qualidade usuais, as condições de armazenagem. Terá pesado na benevolência substituta do preconceito e do interesse político o medo da crise sanitária que recrudesce, como resposta à ignorância, à perversidade e à hostilidade anteriores. A ocorrência de algum evento adverso deve ser comunicada à ANVISA em 24 horas. Dir-se-ia chegar tarde a mudança de conduta das autoridades, perdidas mais de 170 mil vidas, perda em grande medida atribuível à conduta dos que não mostram saberem conduzir uma bicicleta. De qualquer maneira, uma espécie de rendição do fanatismo pelo mercado e do amor à morte – dos outros, os mais pobres à frente, em especial. Quem sabe a Terra é mesmo azul!
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