A aparência das dezenas de altos funcionários das empresas envolvidas nas falcatruas que a Operação Lava Jato desvenda sugere-me sentimentos contraditórios. Um, o de profundo nojo; outro, o de compaixão. Talvez esse tumulto interior seja devido ao avançar da idade, quando a ânsia por sermos bons substitui o desejo de sermos justos. Talvez, ainda, por verificar quanto o propósito de julgar acaba empurrando-nos para a área própria dos justiceiros.
Sei que nojo e ódio não são a mesma coisa. A convivência desse sentimento com o da compaixão parece mais ajustável. O ódio não cede espaço à compaixão.
É mais fácil, nas atuais circunstâncias em que nos encontramos neste país que ainda não se encontrou, ter nojo. Creio que todos os brasileiros o têm, pouco que seja; inconscientemente que seja. Também sei quantos aproveitam essas circunstâncias para destilar o ódio que consome suas entranhas. É uma forma de dividir o veneno inoculado em seu organismo com os inimigos selecionados por seu desejo de vingança.
O que me leva à compaixão, porém, é a suspeita de que muitos dos implicados na ladroagem no fundo não são maus. (Como ninguém é totalmente mau ou totalmente bom). Desatentos para as coisas do mundo, sobretudo valores, sentimentos, afetos podem ter-se deixado fisgar pelo que imaginavam uma carreira exitosa.
No conceito de êxito, ou sucesso, a perspectiva de enriquecimento material os terá feito esquecer outras formas de enriquecimento. Deslumbraram-se com a sedução de bons salários, gabinetes suntuosos, facilidades e comodidades atraentes – tudo o que pensavam constituir-se excelência no desempenho profissional.
Hoje, quantos deles refletirão sobre a vesguice de seu olhar, que ignorou tudo quanto não apontasse para a errônea concepção de êxito? Fizeram o que lhes pedia ou mandava quem lhes pagava os salários e punha à sua disposição o que à maioria dos seus contemporâneos, colegas e pessoas de seu próprio círculo de amigos e familiar é negado, e agora têm sua imagem associada ao crime.
Como ter ódio de seres que se apequenaram e hoje são objeto do repúdio da maioria dos membros da sociedade? Como não ter nojo do que eles fizeram? Como não se compadecer desses incautos, que não entenderam a tempo que a felicidade tem muito pouco a ver com o enriquecimento puramente material?
Eis como pensam os velhos! É certo que nem todos. Basta que algum pense assim, e que haja dentre os jovens os que não fazem ouvidos de mercador. A esperança não é perdida, porque eles ainda existem.