Tomemos por geralmente admitida a ostentação, em cada indivíduo, do livre arbítrio. Todos seríamos dotados dele, razão suficiente para entender que cada decisão individual se explica por esse dado da natureza. O que isso tem a ver com a liberdade?
Em primeiro lugar, a própria afinidade entre gozar de liberdade e ser livre. Depois, a expectativa de que o arbítrio cabível deve relacionar-se com os desejos, anseios, sonhos, utopias latentes ou ostensivos que cada ser humano traz consigo. É no ajustamento da conduta humana, individualmente considerada, às regras impostas pela sociedade pelo Homem mesmo construída que consiste o dilema referido no início do texto (de n° 6). Só isso bastaria, a meu juízo, para admitir e defender a relatividade impositora de limites ao exercício da liberdade.
Admitir, para que não se veja comprometido qualquer esforço por evitar guerras, talvez o mais grave dos fenômenos de que o Homem se fez criador – terrível criador! Em meio ao processo, no caso a História, também outros fenômenos têm sido causados pela própria sociedade, de que as pandemias, a fome, a devastação florestal, o assoreamento de cursos d’água, a poluição de cidades etc. dão cabal evidência. Defender, se ainda resta um mínimo de bom senso e sabedoria ao ser dito humano. Talvez exagero, mencionar a previsão de que uma guerra nuclear só pouparia as baratas pode ser exemplo oportuno.
Preconceitos de toda ordem, sentimentos pouco afeitos ao que os religiosos chamam alma (de que só os humanos seriam dotados), distorções ideológicas concorrem para impedir a compreensão da liberdade e de seus compromissos. Um deles, o da inevitabilidade da renúncia a levá-la à condição de absoluta, ilimitada e ilimitável. Ao contrário, quanto mais se valorizar a liberdade e tê-la como atributo de ordem superior, mais se reivindicará seu exercício praticado dentro de âmbito suficientemente favorável à busca da Paz e da Felicidade humanas. A primeira, a contemplar todos os indivíduos e nações; a outra, como direito e oportunidade do indivíduo enquanto tal.
Talvez alguns dos leitores, se os houver, dirão estar aqui inscrita uma proposta existencialista. Logo outros apontarão na direção de Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, na tentativa de desqualificar o que vai escrito. Não importa. Pelo menos a mim, que trago um tema para debate, eis que ainda me encontro no mundo dos vivos, mesmo se uns são mais vivos que outros. E vivem para si, não para a sociedade. Coitados! Impedidos de ver a luz refletida na parede da caverna, têm seu mundo mais limitado que a liberdade por eles mesmos reivindicada. Como fazer do conteúdo maior que o continente?
os intelectuais são extraterrestres.
Assim como explicar o Brasil não é para qualquer estrangeiro, o planeta Terra não é para qualquer extraterrestre...