Quando não se aproveita o tempo e não se faz dele uma escola, passa-se por ele apenas acumulando dias, meses, anos, décadas, raramente século. Quando na curta permanência sobre a Terra não nos esforçamos por fazer da memória mais que um depósito improdutivo de reminiscências, o ato final não corresponde ao protagonismo, mas à plateia, como nos programas de Chacrinha. De Luciano Hulk e Faustão, pode ser, também. A vida humana, assim, pode ser engraçada, alegre, jamais rica. Talvez influenciado em demasia pelas leituras da adolescência e os sonhos ali nascidos, mais as que o curso de Direito dos anos 1960 exigia, acabei por incorporar em mim certas premissas. Nenhuma delas desvinculada da vida de todos e de cada um, nas ruas, nos lares, nas entidades recreativas, nas escolas - lá onde quer que a Vida apresente alguma de suas muitíssimas e enriquecedoras facetas. Nela, na Vida, por leitura, testemunho e experiência, aprendi alguma coisa. Pode não ser tudo quanto desejaria, mas o suficiente para ir pouco a pouco resolvendo os problemas que a própria Vida nos (me, no caso específico) impõe. Pois diz respeito a essas imposições, aos desafios que nela estão contidos e na resposta a cada um deles o primeiro sinal de que estou vivo. Traduzo-o, lembrando Platão, para quem a essência do Homem consiste em ser um animal político. Dessa afirmação do discípulo de Sócrates é que extraio a primeira lição: na Política está o locus onde a espécie dita humana revela mais nitidamente o que a torna diferente dos outros animais - a vontade. Esta, seja entendida como sonho, aspiração, desejo ou anseio, muitas vezes sacrifica os instintos, os mesmos de que são dotados todos os seus irmãos naturais, como o de sobrevivência e o de perpetuação. Isso me leva a oferecer intepretação diferente do que faz a maioria dos que se preocupam com o Mundo, a Vida e como inserir-se no primeiro e desfrutar da segunda, ao tratarem da Utopia. Se para a maioria esse seria o não-lugar, algo inexistente a não ser na mente das pessoas, e nem todas, minha interpretação é diferente: utopia é apenas o lugar aonde ainda não chegamos. Isso não sifnficia dizer que jamais chegaremos a ele.
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