Quando o tráfico distribui drogas pelo mundo, ele está destruindo vidas e famílias. Drogas sintéticas vêm criando epidemias, como no caso do fentanil nos EUA. Os opióides são devastadores e já chegaram ao Brasil, há muito tempo.
Enquanto o crime organizado do tráfico ganha bilhões com sua sanha arrasadora, outro tipo de crime chegou, implacável, na Amazônia: o garimpo ilegal.
O garimpo é antigo por aqui, mas não nessa nova perspectiva.
Esta semana estamos vendo na mídia a ação violenta de garimpeiros contra a missão do Estado em combater o crime ambiental e a destruição do bem natural na Amazônia, especificamente em Humaitá, no Amazonas.
Garimpeiros não são o problema. São objetos da exploração desumana de um novo crime organizado na Amazônia, formado por empresários e políticos inescrupulosos. Garimpeiro é um trabalhador em condição precária de trabalho.
Nenhum trabalhador assalariado ou de renda obtida da sua força de trabalho tem condições de comprar balsas e equipamentos de milhões de reais. Aí tem dedo desse novo crime organizado.
A polícia federal e os órgãos ambientais cumprem sua missão de combater o crime ambiental, destruindo o objeto do crime. A falha está na falta de uma ação de inteligência para identificar e prender quem se esconde por trás da ação criminosa.
Prender o trabalhador explorado é paliativo. Claro, se ele é criminoso, não pode ficar impune, mas não identificar e prender políticos e empresários que bancam e ganham com o crime pode parecer uma complacência do Estado, uma estrutura historicamente a serviço dos poderosos.
O garimpo é terrivelmente destruidor. Ele dispersa comunidades inteiras, adoece e mata seres vivos. É deletério. Sua exploração ilegal remonta períodos da acumulação primitiva do capital.
A ação do Estado brasileiro está correta em combater o crime na sua efetivação, mas isso é um plantecure na solução do problema. Tem que ir à raiz. Tem que desarticular a organização criminosa de políticos e empresários que bancam e ganham milhões com a exploração ilegal e predatória do garimpo na Amazônia.
Não é difícil saber. Esses criminosos se manifestam publicamente em defesa desse crime. É preciso agir com rigor, pois há muitos agentes públicos por trás da bandidagem.
Está dada a dica. O garimpo ilegal é um crime organizado diferenciado do crime de tráfico. É uma organização que envolve políticos, empresários e agentes públicos. Sem uma ação estruturante contra os chefões, toda operação será para enxugar gelo.
Lúcio Carril
Sociólogo
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