Vivi como militante os últimos dez anos da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, do Muro de Berlim e da Guerra Fria.
Falei aos meus botões, caminhando pelo Igarapé de Manaus no início dos anos 90: a propaganda anticomunista agora perde o sentido. Não há mais ameaça.
E assim os anos se passaram.
Continuei comunista, fui para universidade e virei um sociólogo comunista nascido e criado no meio da floresta amazônica. Um boto vermelho.
Vi e ajudei renascer a democracia no Brasil. Ainda andei sentindo o cassetete da ditadura, suas celas fétidas e o cheiro de enxofre dos seus agentes. Sobrevivi, ao contrário de muitos dos meus e minhas camaradas.
Pois bem. Já me sentia solitário e esquecido na minha utopia marxista, quando vejo ressurgir um Macarthismo em pleno século 21, trinta anos após a queda do Muro, e aqui no Brasil, país que já tinha enterrado Plínio Salgado e seu integralismo tupiniquim.
Desta vez a máquina anticomunista não é a velha imprensa marrom das cinco velhas famílias tradicionais, mas os meios criados pelas novas tecnologias da informação e da comunicação. Agora, a notícia ganhou mais rapidez e eficiência.
Nas minhas aulas de sociologia da comunicação com o mestre Ricardo Parente aprendi a perceber o sentido ideológico da comunicação. A partir dali fui dialogar com a semiótica para entender signos e significados nos textos jornalísticos.
Hoje, pouco importa a beleza do texto para quem coordena uma fábrica de fake News a devorar mentes e o vazio que nela existe.
Se o meio é outro, não podemos dizer o mesmo dos produtos. Mentiras, ódio e poder dão vida ao velho anticomunismo macarthista e integralista da Guerra Fria.
Mesmo as produções jornalísticas perderam seu estilo sutil de ideologizar através de um título ou das entrelinhas da matéria. Agora tudo é propaganda direta, cínica e, muitas vezes, mentirosa.
O anticomunismo voltou com o mesmo vigor dos velhos tempos, mas num trem-bala ou montado num satélite ou em ondas eletromagnéticas.
Ao comunismo não foi dado sequer um breve descanso na história. Ele está vivo nos nossos sonhos, nas nossas lutas e nas mentes insanas dos estúpidos.
Lúcio Carril
Sociólogo
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