QUAIS SÃO OS SUJEITOS COLETIVOS DO ASSASSINATO DE MOÏSE KABAGAMBE?
- Professor Seráfico
- 5 de fev. de 2022
- 2 min de leitura
Em 1937, durante a ditadura do Estado Novo, o advogado Sobral Pinto assumiu a defesa dos comunistas Luiz Carlos Prestes e Harry Berger. No caso de Berger, duramente torturado pela Gestapo de Filinto Muller, exigiu do governo a aplicação do artigo 14 da Lei de Proteção aos Animais.
Harry Berger, codinome de Arthur Ernest Ewert, militante comunista alemão, foi solto em 1947 e passou o resto de sua vida num hospital psiquiátrico, sequelado mentalmente pelas cruéis torturas.
Recorro a esse fato abjeto da nossa história e à memória de Sobral Pinto, um católico fervoroso e seguidor honesto dos mandamentos cristãos, para falar do assassinato covarde do congolês Moïse Kabagambe, de 24 anos, no Rio de Janeiro.
Vi por poucos segundos o vídeo do espancamento. É uma cena bárbara, análoga às torturas feitas pela gestapo de Getúlio Vargas durante o Estado Novo. Harry Berger teve sua sanidade mental retirada à força pela violência. Moïse teve sua vida ceifada à pauladas.
Sobral Pinto, se vivo estivesse e presenciasse tamanha crueldade, arguiria novamente a Lei de Proteção aos Animais para pedir pela vida do jovem congolês. O faria de joelhos ou daria seu próprio corpo para impedir a violência. Era um cristão de verdade e um humanista formado pela consciência de respeito à vida.
Que país é este que de ditaduras perversas à gente ruim vem se desfazendo em crimes bárbaros contra a vida e a dignidade humana?
Para aonde estamos indo?
Têm culpados, sim. Culpados além do indivíduo agente do crime.
Foram 388 anos de escravidão e crueldades desmedidas contra a raça negra. Assim como vivemos até hoje sob ameaça de ditaduras militares/civis praticantes de crimes contra a vida.
São séculos de latifúndio e assassinatos no campo.
O capital destruiu o meio ambiente no Brasil e hoje ataca nossas florestas, com apoio e incentivo governamental.
Índios, negros, jovens da periferia foram e continuam sendo massacrados pela polícia e por uma política oficial de extermínio.
Toda essa violência têm sujeitos coletivos como mandantes. São as elites brasileiras, oligarquias e estratos sociais que se apropriaram do Estado. Tanta violência e crueldade é resultado de uma formação histórica opressora, orquestrada por grupos de poder.
Mas lhes digo uma coisa: essa elite não sabe ou diz não saber, mas um dia o povo vai descer dos morros e da favelas e não será para o carnaval, nem para desentupir suas fossas.
Aguardem. Como o diz o poeta Dori Carvalho: UM DIA A CASA CAI.
Lúcio Carril
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