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Promessa não cumprida

Foto do escritor: Professor SeráficoProfessor Seráfico

A França hoje engalana-se, pela passagem do 232º aniversário da Revolução fundadora da Época Contemporânea. Então, e à custa de muito sangue, espalhou-se pelos continentes o ideal inspirado nas Luzes, o iluminismo: Liberdade, Igualdade, Fraternidade. De lá para cá, no tempo e no espaço, muitos têm visto frustrados os anseios de que a Marselhesa acabou tornando-se símbolo. Em nome deles, mais sangue tem sido derramado, menos próximos temos ficado de realizar o prometido. Há um outro lado da questão, o que diz respeito à crescente acumulação da riqueza por todos produzida, em mãos tão escassas. Não apenas porque reduzidíssimo o número dos que a detêm, mas pela escassez por eles impostas a todos os demais contemporâneos. A Liberdade pretendida confronta-se com a violência estimulada, sempre em favor dos que dela dispõem e usam em benefício próprio: a uns cabe o direito de ser livres e explorar todos os demais; a estes, a liberdade de morrer de fome, doença bem administrada, de uma pandemia às vezes. A Igualdade, expressa com letras maiúsculas nas Constituições e leis, não tem merecido empenho dos que nela dizem encontrar inspiração para belos discursos. De que se aproveita toda sorte de egoísmo. Muito do que invoca o nome de um deus malvado, amigo da opressão e punitivo dos deserdados da sorte. Nascemos desiguais, à desigualdade, portanto, deveremos estar condenados. A sociedade como obra de um deus helênico sem Olimpo digno. Em suma, à caverna de volta! Quanto à Fraternidade, ai de quem a queira invocar, quando as janelas de oportunidade (dá-me nojo a expressão) indicam quão maior pode ser a apropriação e detenção da riqueza, se para isso for competente a tarefa de manter tudo como aí está. Burguesa, nem por isso a Revolução de 1789 contentou-se com levar tanta gente à guilhotina. Os pósteros aproveitaram suas lições e agradecem a Danton, Robespierre, Camille Desmoulins, Rouget de Lisle e Marat. Deles nem precisavam, se a coronavírus e sua filha covid-19 substituem o invento do Doutor Guillhotin.

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