Tudo começou com um golpe militar.
É assim que inicia a história da república brasileira. De lá até hoje, pelo menos oito golpes foram dados, quase todos incluindo militares.
Em 03 de novembro de 1891, o marechal Deodoro da Fonseca, para se livrar da pressão política, dissolveu o Congresso Nacional e mandou prender os políticos oposicionistas.
Vinte dias depois, Deodoro renunciou, pressionado pela marinha brasileira, que ameaçava bombardear o Rio de Janeiro caso o presidente continuasse no cargo. Foi a chamada Primeira Revolta da Armada.
Floriano Peixoto, vice de Deodoro, não poderia assumir a presidência, pois a constituição de 1891 determinava novas eleições no caso de menos de um ano de mandato. O militar fez uma manobra e continuou no cargo, mesmo tendo que enfrentar a Segunda Revolta da Armada. Fez um governo ditatorial.
A chamada Revolução de 30 nada mais foi do que um golpe civil-militar, que pôs fim à Primeira República ou República Velha.
Em 1937, o Estado Novo é decretado por Getúlio Vargas com uma trama urdida por militares, o Plano Cohen, tendo à frente Eurico Gaspar Dutra. Vargas ficou no poder até 1945. Seu governo foi de linha do fascismo europeu e chegou a flertar com a Alemanha Nazista.
Em 1945, o próprio Eurico Gaspar Dutra e outros militares forçaram Vargas à renúncia.
E nessa onda golpista republicana, o Brasil chegaria a 1964 e viveria sua pior experiência ditatorial, com mortes, torturas, fechamento do Congresso Nacional, prisões, censura, etc.
A partir de 1985, o país indicava que teria achado o leito natural da democracia, com a instauração da Nova República. Mas logo viveria um novo retrocesso antidemocrático com o golpe de 2016, dessa vez sem o bedelho dos militares, mas orquestrado pelas viúvas da ditadura.
E assim chegamos a novembro de 2024, com uma nova trama golpista militar sendo revelada ao Brasil e ao mundo. Mais um ano na nefasta cronologia do golpe iniciada nos primeiros grunhidos da república.
A democracia brasileira estará sempre em perigo enquanto não houver uma reforma estrutural nas Forças Armadas, mudando a doutrina golpista da Escola Superior de Guerra, criada e até hoje orientada pelo Departamento de Estado dos EUA.
É vergonhoso como esse instituto se mantém ainda sob a doutrina da Guerra Fria, alimentando a existência do fantasma do comunismo.
A democracia brasileira sempre estará em perigo enquanto as Forças Armadas consumirem quase 90 bilhões de reais do orçamento público, num verdadeiro acinte ao povo e sem qualquer retorno para a nação, senão meios-fios pintados.
É louvável e reconhecida a existência de militares que respeitam a Constituição, mas sempre haverá militar que dorme e acorda com medo do bicho-papão vermelho, enquanto perdurarem esses ensinamentos nos quartéis e na ESG.
Lúcio Carril
Sociólogo
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